CINE BOM JARDIM - HISTÓRIAS, LEMBRANÇAS E SAUDADES...
O único lugar onde o sucesso vem antes do trabalho é no
dicionário –Albert Einstein
Por Antonio Magno
Foi preciso que ressuscitassem o velho Cine Bom Jardim para
que depois de tantos anos eu me lembrasse que naquele 10 de janeiro de 1954 eu
tinha apenas doze anos de idade.
Antes de 1954 em se tratando de cinema em Bom Jardim tivemos
onde hoje é a Sede da Banda de música o cinema do Senhor Borges, cujo velho
prédio numa certa madrugada veio a baixo, felizmente, sem causar acidentes
pessoais. Anos depois o cantagalense Humberto Santelli – apelidado por
camundongo – inaugurou um improvisado cinema num dos galpões do Sr. Manoel
Fernandes na Av. Leopoldo Silva ao lado da residência de número 352. Porém,
enquanto o “cinema do camundongo” exibia seus filmes e seriados, o sonho
bom-jardinense de ter um bom cinema se transformava em realidade pela
iniciativa do Sr. Édmo Erthal e acionistas. Assim sendo, após grande luta
aquele que seria por bom tempo o orgulho dos bom-jardinenses estava pronto para
ser inaugurado em 10 de janeiro de 1954 em cinema scope e tela panorâmica com
vista vision (tecnologia de última geração).
Naquele ano eu ainda cursava a quinta série primária no
Ramiro Braga e, portanto, ainda andava de calças curtas, normalmente cerzidas e
sapatos com meia sola. Tempos difíceis... Mas, a essas alturas dos
acontecimentos o que nos ansiava era poder participar da inauguração do imponente
Cine Bom Jardim.
Lembro-me que desde a véspera eu aguardava por uma brecha
para pedir dinheiro à mamãe para participar do dito evento. Mas, como mãe é
telepata nata, antes do meio dia do dia “D” ela chamou-me e disse:
– Antônio Magno, meu filho, você já engraxou seus sapatos?
Como até então ela não havia dito nada sobre a minha ida
para a inauguração do cinema, perguntei:
– Engraxar os sapatos para quê, mamãe?
Foi quando então, ela respondeu tudo que eu queria ouvir:
– Meu filho!... Por acaso você vai querer ir à inauguração
do cinema com os sapatos sujos?
Sem pensar duas vezes, apanhei a graxa, a escova e a
flanelinha e, em poucos minutos deixei o pisante brilhando. E assim, mais tarde
pude – juntamente com amigos que já nos deixaram e com amigos que ainda
perambulam entre nós – participar desse marco da história bom-jardinense.
Quando eu completei meus 15 anos eu achava bacana casais de
namorados no cinema e aí, cá com os meus botões, comecei a imaginar que a minha
hora também já estava chegando. Foi quando Aloísio Figueira de Barros (dentinho)
que já tinha namorada arranjou-me uma namorada – amiga da dele – numa festa em
São Miguel. Passados uns trinta dias, Aloísio marcou para irmos à “matinê” com
as namoradas. Achei radiante, porém fiquei pensando: “Pô!... Como vou fazer
para pagar a entrada da namorada?”
No domingo estabelecido, Aloísio e as duas chegaram na hora
marcada, enquanto eu, por não dispor de dinheiro para pagar a entrada da
namorada, fiquei em casa aguardando o início da sessão do cinema para depois
entrar. Como as duas vieram sem dinheiro e nada de eu chegar, Aloísio comprou
as três entradas, resolvendo o pepino. Mas, quando o filme terminou e as
namoradas foram embora, Aloísio falou:
– Pô rapaz, o seu atraso me causou prejuízo!
– Como assim?– eu sabia do que se tratava, mas dei uma de
não entendido.
– Como assim, que eu tive de pagar a entrada de sua namorada,
pô!...
– Pô!... Que troço chato!– imediatamente, procurei desviar a
conversa para que ele não me falasse em ressarcimento. Ainda bem que até hoje
nunca falou...
Nos meus dezessete anos, certo dia o cinema exibia um filme
proibido para menores de 18 anos, achando que pelo meu porte físico eu não sofreria
censuras, comprei a entrada, dirigi-me ao Senhor Lulu Bianco (porteiro) e
dei-lhe o bilhete. Seu Lulu colocou a mão em meu ombro e falou:
– O Lopes, você não sabe que o filme é proibido para menores
de 18 anos? Infelizmente, você ainda não pode entrar.
Confesso que se raiva matasse alguém, seu Lulu teria morrido
naquela noite bom-jardinense.
De volta do cinema, com as orelhas muchas, o rabo entre as
pernas e raivoso, encontrei Danillo Cariello que logo perguntou:
– Ué! Não gostou do filme?
Após contar-lhe o que me aconteceu, Danillo riu e disse:
– Seu Lulu é foooda!... Como é que ele sabia que você ainda
não tem 18 anos?!
– Sei lá!... Mas... Deixa-me completar 18 anos que ele vai
ver uma coisa!...
Por coincidência, na semana em que fiz 18 anos o cinema
estava exibindo um filme proibido para menores de 18 anos. Aí, pensei: “É
hoje!... É hoje que eu vou mostrar a “ele” com quantos paus se faz uma
cangalha!” Pois bem, coloquei a minha certidão de nascimento no bolso e chamei
Danillo para testemunhar a confusão que eu pretendia criar se fosse “barrado”
pela portaria do cinema. Comprei a entrada e entreguei-a ao Senhor Lulu –
pedindo a Deus que eu fosse barrado – mas, o tiro saiu pela culatra, pois sorridente,
ele olhou- e disse:
– Pode entrar Lopes. – simplesmente, acabou com o meu
ímpeto.
Sentei-me em minha cadeira cativa e pensei: “Danillo tem
razão. Seu Lulu é foda mesmo! Como ele adivinhou a minha idade?”
Pois é, meu eterno Cine Bom Jardim, hoje Cine Teatro Édmo
Erthal, são inúmeras as histórias que se poderia contar relacionadas a você.
Doravante, tanto a sua inauguração em 10 de janeiro de 1954
quanto a sua reinauguração em 05 de março de 2012 são eventos que marcaram e
que se eternizarão na história de Bom Jardim.
E.T. Sinceros cumprimentos à gestão do Prefeito Dr. Paulo Barros
por mais essa etapa vencida.