A revolta de
uma mãe
“O
título acima foi escolhido por minha mãe, Helena Gonçalves Neves Cariello, bom-jardinense
de 84 anos. Ela também é mãe de Bernadette, Ivan, Auxiliadora, Regina, Luiz
Augusto e Marconi, todos Neves Cariello e frutos de sua união com Eurybio
Cariello, além de avó de vinte netos e bisavó de vinte bisnetos.
Pois
bem, ou pois mal. Estávamos Ivan, Regina e eu calmamente conversando na varanda
da casa de nossa mãe em Bom Jardim na tarde de sábado, dia 17 de dezembro,
quando ele e sua companheira Gilcéa Reis despediram-se para voltar a Nova
Friburgo, onde residiam. Já era final de tarde, e o tempo chuvoso e a
precariedade da estrada desaconselhavam a viagem à noite. Não adiantou. Poucos
minutos depois, ambos estavam mortos, afogados dentro do próprio carro, que
caíra no rio Grande, alguns metros após São Miguel e pouco antes da ponte que
está sendo construída há quase um ano no lugar da que foi levada pela enchente
de janeiro. Indo ao local do suposto acidente, não há como discordar do amargo
título sugerido por mamãe: é uma vergonha, é um escândalo, é um crime o que os
(ir)responsáveis pelas obras de correção dos estragos da tragédia de janeiro
(não) estão fazendo! Qualquer um que passe pelas margens do rio Grande, no
trecho onde o fato ocorreu, deve até estranhar a demora para acontecer alguma
coisa mais séria, como a que infelizmente acabou por vitimar meu irmão e deixar
chocados cinco órfãos e inconsoláveis seus queridos netos. Quase um ano depois
da traumática enchente, praticamente todo o trecho entre São Miguel e a ponte
em construção, calçado com paralelepípedos, está desmoronando a olhos vistos. E
o que fazem os (ir)responsáveis? Após, e só após o suposto acidente, colocam
umas discretíssimas tiras plásticas de alerta, sustentadas por fragilíssimas
estacas de madeira, tentando delimitar a perigosa área a ser evitada pelos
motoristas... Além de tardia, a providência torna-se inócua à noite,
especialmente nesta época de chuvas, pois não há qualquer sinalização luminosa
adequada para ajudar o motorista a enxergar o frágil obstáculo e,
consequentemente, evitar o precipício que a falta dos paralelepípedos criou e
que se expande à medida que o rio enche. Aliás, é de se prever que, no ritmo atual,
o desmoronamento acabará por levar, dentro de pouco tempo, as próprias estacas
com tiras plásticas e tudo, avançando pela Avenida Eno Feliciano Pinto adentro
enquanto medidas mais sérias de contenção não forem tomadas.
Consumada
a tragédia maior, deu-se início à segunda, que foi a impossibilidade de manter
comunicação por telefone com eficiência, direito de qualquer cidadão em dia com
suas obrigações, especialmente em momentos de aflição e desespero. Dada a
urgência e a gravidade do assunto, tentamos nos comunicar com muitas pessoas na
noite de sábado e na manhã de domingo, e qual não foi meu espanto ao verificar o
péssimo serviço de telefonia prestado na região. As ligações só se completavam,
e quando se completavam, após inúmeras tentativas e irritantes gravações que
não conseguiam disfarçar a incapacidade de as operadoras (tanto da telefonia
fixa quanto da móvel) prestarem um serviço decente aos cidadãos.
Bom-jardinense
residente em Brasília há dez anos, e desde sempre assíduo eleitor em nosso
município, onde jamais deixei de cumprir com meu dever de cidadão, venho aqui
regularmente visitar minha mãe, outros familiares e amigos, pois a distância me
faz sentir muita falta de todos eles. Neste momento de luto e dor, acho que tenho
o direito, se não o dever, de não me calar. Não é possível continuarmos a pagar
religiosamente um pedágio nada barato e transitarmos, como dóceis carneirinhos
a caminho do matadouro, por caminhos tão perigosos e descuidados que chegam ao
cúmulo de causar mortes por desleixo de quem deveria cumprir com suas
obrigações. Aliás, e a propósito, outra tragédia anunciada é a que está para
acontecer nas proximidades do próprio posto de cobrança do pedágio, nas Furnas
do Catete, tanto no sentido Bom Jardim quanto no sentido Nova Friburgo. Ali, o
asfalto cede e se desmancha lentamente sob nossos pés, e o que vemos de
concreto são quase sempre as constantes interrupções do trânsito para permitir
a passagem de um veículo de cada vez, dado o estreitamento cada vez maior da
pista disponível para o fluxo dos veículos. Isso sem falar no precário estado
da rodovia em que se transformou a antiga linha férrea, ora usada como
alternativa para evitar o desvio por São Miguel, via essa que desemboca na
Barra de Santa Teresa e apresenta vários precipícios à beira do rio, à espreita
de novas vítimas. Como chamar de “acidente” aquilo que aconteceu com Ivan e
Gilcéa e pode acontecer a muitos outros a qualquer momento, se os evidentes sinais
da possibilidade de novas tragédias saltam aos olhos de qualquer leigo? Não
seria melhor nominá-lo de “armadilha”, à espera do primeiro incauto, ou até
mesmo chamá-lo de “homicídio previsível”? Por outro lado, também não é possível
continuarmos a pagar religiosamente contas telefônicas caríssimas e receber em
troca, calados, um serviço de péssima qualidade.
Registre-se,
por justo e merecido, o agradecimento da família aos anônimos que tentaram
salvar a vida de meu irmão e de minha cunhada. Soubemos de homens heróicos que,
do outro lado do rio, testemunharam horrorizados a queda do veículo, e, impossibilitados
de cruzá-lo em frente ao local do acidente, ou melhor, da armadilha, retornaram
até a ponte inacabada, ultrapassaram-na às carreiras, correram até o local onde
o veículo afundava e mergulharam nas águas revoltas, mas o mal estava feito e
era irreversível. Na impossibilidade de nominá-los sem o risco de cometer
injustiça por omissão, muito obrigado a todos.
Se
algum acréscimo coubesse ao justíssimo e doloridíssimo título sugerido por uma
mãe revoltada, encurvada pela idade e pelo luto, que acaba de perder um filho
querido, eu diria: indignemo-nos!”.
Leandro Neves Cariello
(por e-mail: leandro.cariello@gmail.com)
22 de dezembro de 2011
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MENSAGEM DE FINAL DE ANO
Amigo Luiz Antonio Dias e amigos de Bom Jardim. Às vésperas de um Novo Ano, repasso uma mensagem recebida da cunhada Fernanda (esposa do Irmão Rodrigo), enviando presentes simples e simbólicos:
- Uma BORRACHA, para apagar tudo que te fez triste durante o ano que se encerra;
- Um SABONETE, para retirar marcas ruins do dia-a-dia;
- Uma TESOURA, para cortar tudo o que te impede de crescer;
- Um FRASCO, para conservar os seus sorrisos;
- Um COFRE, para guardar lembranças construtivas e edificantes;
- Um RELÓGIO, para lhe mostrar que não tem hora para ser feliz; e, por último,
- Um ESPELHO, para admirar a obra mais perfeita de DEUS: Você!
Feliz 2012 para todos!!
Derly Mauro & família
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