terça-feira, 14 de outubro de 2008

Coluna do Magno

Avenida Leopoldo Silva, número 352

Caminhar à tardinha pela Av. Leopoldo Silva e dar uma olhada para a casa de número 352, onde um dia meus pais construíram o seu ninho, é trazer de volta muitas histórias. Sempre que por lá passo e paro, mesmo a encontrando sempre fechada, tenho a impressão de que, a qualquer momento, minha mãe surgirá na janela, esfregará as mãos uma na outra, olhará para a roseira de rosas vermelhas e dali, contemplará mais um cair de tarde bom-jardinense.
Há dias, ao passar pela “casa”, que hoje mora dentro de mim, dei uma parada maior que as de costume. Portas e janelas continuavam fechadas, no entanto, meu pensamento viajou até junho de 1969, ocasião em que regressei de Recife para curtir as férias na “Terrinha”. Naquele dia, mal chegando, dei à minha mãe um boneco de barro do caruaruense “Mestre Vitalino”. Mamãe, após analisar alguns detalhes do boneco, perguntou:
— Ó meu filho, você comprou este boneco em Recife ou em Caruaru?
— Mamãe, eu comprei em Recife, numa feira de artesanatos, na rua da Aurora, ao lado do Rio Capibaribe.
Mas, mamãe, que de quase tudo sabia um pouco, voltou a indagar:
— Ó meu filho, por falar em Rio Capibaribe, você já viu como é lindo o “meandro” formado por esse rio?
Sem saber o significado da “palavra”, mas sem querer dar o braço a torcer, caí na besteira de “chutar”:
— É, mamãe, realmente o meando do Capiba é muito bonito.
Porém, mamãe, além de conhecer bem as crias, tem o faro fino. Aí, logicamente, percebendo o “chute”, apertou o cerco pra cima de mim:
— Ó meu filho, o que significa “meandro”?
Naquele instante, tive vontade de arribar para Recife e aí pensei: “É... desta feita, Dona Isaura me pegou...!”.
Tentei enrolar, mas mamãe, apontando para a estante, disse:
— Meu filho, meu filho, abra o dicionário e veja a resposta!
Abri o dito cujo e lá estava: meandro. s.m. – “caminho cheiro de curvas”.
Mamãe, rindo, tocou minha cabeça e falou:
— Antonio Magno, meu filho, não chuta! Isso é muito feio!
E assim, sempre que eu passar pela “casa 352” da Leopoldo Silva, histórias virão à tona e, que festa meu olhar daria se a mamãe aparecesse na janela, mesmo que fosse para clamar: “Antonio Magno!! Deixa essas bolas de gude e venha tomar seu banho!”.

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