sábado, 15 de setembro de 2012

Brasilidade: um novo caminho


Maria Inez do Espírito Santo (foto)

Outro dia falávamos aqui, num texto criado especialmente para este jornal, sobre a importância da cultura, como elemento de revivificação nas horas de sofrimento.  A receita vale para os cidadãos de Bom Jardim tanto quanto para qualquer grupo humano.
E é por isso mesmo, pela força fundamental que os elementos culturais genuínos de um povo têm, que os colonizadores, em todos os tempos e lugares, desprezam e renegam as culturas dos locais que invadem e impõem, aos colonizados, seus costumes e crenças. Buscam  destruir a verdadeira identidade  dos que são submetidos e, assim,  toda  possibilidade de reação ao domínio que lhes é imposto.
No Brasil,  não foi diferente. Desde  o tempo conhecido como de nosso “descobrimento” , os habitantes originais  dessa terra “Pindorama” foram desprezados e tiveram seus costumes desvalorizados,  em nome de uma suposta superioridade da cultura européia. E assim foram se sucedendo umas e outras  colonizações, declaradas ou disfarçadas,  de modo que nosso sistema de valores  foi-se deformando para agradar, principalmente, a interesses estrangeiros.
A educação não poderia passar isenta por esse processo. Pelo contrário, se é ela, exatamente, o instrumento que melhor serve tanto para estimular quanto para destruir a auto estima do ser humano. Foi, portanto, seguindo a postura de desvalorização de nossas culturas, que a escola brasileira, de modo geral, reproduziu os padrões de sistemas de governos submetidos a políticas que não respeitaram nem valorizaram as características genuínas de nossa terra.
Uma das trágicas consequências desse processo  foi  a sabedoria milenar de nossos povos ancestrais  ter sido soterrada nos destroços das centenas de nações indígenas assassinadas,  por séculos e séculos de sucessivas invasões ocorridas aqui (que a história oficial não conta). Essa situação foi  agravada, definitivamente com o estabelecimento dos portugueses no Brasil, a partir de 1500, quando se declararam, legalmente, os donos do território invadido.
No entanto, como acontece na Natureza maior, a cultura igualmente se refaz, em movimento contínuo e perene. E vivemos, hoje, o início de um tempo de resgate e reconstrução do que nos pertence, sim, por direito legítimo: os ensinamentos preciosos de nossos antepassados indígenas, preservados pela transmissão oral, de geração em geração, através do que eles chamam de “histórias dos antigos” e que nós conhecemos pelo conceito universal de mitos.
Com a  recente (ainda que tardia) determinação do governo federal, que estabeleceu, com força de lei (11645) a obrigatoriedade do ensino das culturas indígenas  nos cursos fundamental e médio de todas as escolas do país, inaugura-se um espaço oficial para que possamos formar cidadãos brasileiros  conhecedores de suas raízes e orgulhosos delas.
Resta-nos levar a lei para a efetiva prática diária. Um exercício  que surgirá  do prazer de descobrirmos  quem verdadeiramente somos.
Maria Inez do Espírito Santo  -  www.mariainezdoespiritosanto.com

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