sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Drº Péricles – A cisão das famílias Corrêa da Rocha e Erthal (3ª parte)

(*) Erthal Rocha

Nesta série, tendo como pano de fundo “Estórias Coladas” há fatos e acontecimentos que não podem deixar de ser lembrados, por sua importância e gravidade, entre eles a ruptura das relações pessoais e políticas entre os clãs Corrêa da Rocha e Erthal. Por certo, Marta de Faro Novis o incluirá em futuras edições de sua estupenda obra.

Até a eleição de 1922, na qual Péricles Corrêa da Rocha foi eleito o primeiro prefeito de Bom Jardim, as famílias tinham boas relações pessoais e eram unidas e correligionárias na política, chefiadas por Luiz Corrêa e Eugênio Erthal, ambos Coronéis da Guarda Nacional, distinção que lhes havia concedido o Imperador Pedro II. Na época, entretanto, eclodiu entre elas, grave cisão, transformando em facções, não só adversárias, mas inimigas. A origem da ruptura é detalhada pelo desembargador federal aposentado Clélio Erthal, em seu livro genealógico “A saga de uma família rural fluminense” (Ed. do autor-2005-Niterói). O coronel Eugênio Erthal, (avô materno deste articulista) que havia sido presidente da Câmara (equivalente ao cargo de prefeito) de 1909 a l9l5, foi eleito, novamente, vereador em 1924 com expressiva votação. A eleição, porém, foi anulada por ingerência política e, na eleição realizada logo após, não figurou nenhum nome da Família Erthal na relação de candidatos e nem nos pleitos seguintes. A luta começara por um motivo aparentemente não irrelevante, agravada por despeito de pessoas que desejavam ver as duas tradicionais famílias desunidas, valendo-se para isso de intrigas e maledicências. Outro fator desagregador foi o retorno de Júlio Erthal, de Duas Barras para Bom Jardim e, chegando à nossa terra, aderiu à facção dos Corrêa da Rocha, enfraquecendo sua própria grei. Durante seis anos, Bom Jardim viveu a fase mais tumultuada de sua história política. De correligionárias, tornaram-se adversárias e aguerridas. A disputa era violenta e descambou, não raro, para o lado pessoal entre os dois coronéis, afetando a boa relação que havia entre seus parentes, em virtude de diversos casamentos havidos entre membros das duas famílias. Manoel Erthal, filho de Eugênio, era casado com Julieta, sobrinha de Luiz Corrêa. Seu irmão Henrique era casado Mariana, também sobrinha de Luiz Corrêa. Carlos, meu pai, sobrinho de Luiz Corrêa, era casado com Angelina, filha de Eugênio Erthal. Como o cinema local era de propriedade da Companhia Agrícola e Industrial Luiz Corrêa, os membros da Família Erthal sentiam-se constrangidos e não o freqüentavam. A vantagem de poder e de prestígio era acentuada para a Família Corrêa da Rocha que tinha a seu favor, o prefeito (Dr.Péricles), os presidentes do Estado, atualmente governadores (Feliciano Sodré e depois Manoel Duarte), e a presidência da República (Arthur Bernardes e Washington Luiz), além do coordenador da política regional Dr.Galdino do Valle, chefe político em Nova Friburgo. Com a eclosão da Revolução de 30, foram todos apeados do poder, ensejando a volta da política anterior da qual fazia parte a Família Erthal. Ela retornou com sua antiga influência e acatou a indicação de Gastão Reis para Prefeito interino, feita pelo comando da Revolução, visando apaziguar os ânimos. Seus principais integrantes, tendo à frente Eugenio Erthal, compareceram à posse. . .

Restabelecida a democracia, após queda de Getúlio Vargas, em outubro de l945 e já falecidos Luiz Corrêa e Eugênio Erthal, as duas famílias voltaram a se unir, sob a legenda da UDN (União Democrática Nacional) para apoiar a candidatura do Brigadeiro Eduardo Gomes à presidência da República e para enfrentar os dois novos partidos criados (PSD e PTB), que apoiavam o ditador deposto, tendo como candidato o General Eurico Gaspar Dutra, que veio a vencer o pleito. A união das duas famílias teve êxito, como em outros tempos e persistiu posteriormente, visando a melhoria de condições de vida da população e o desenvolvimento do município. Foram eleitos pela UDN, o advogado José Luiz Erthal para deputado estadual por duas legislaturas e para Prefeitos de Bom Jardim, os empresários Édmo Erthal e José Guida, por dois mandatos, não consecutivos e o farmacêutico Mário Nicoliello, em l977, este muito chegado ao Dr.Péricles, todos com boa administração, apesar dos minguados recursos municipais da época.

(Na próxima edição, o problema de energia elétrica em Bom Jardim e outros temas, finalizando a série).

(*) Célio Erthal Rocha- E-mail: erthalrocha@terra.com.br - é jornalista, advogado, membro do IHG/BJ e articulista do Jornal MAIS BJ+NF.

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