A cessão dos prédios da antiga Leopoldina às prefeituras

(*)Erthal Rocha

Quando assumi o mandato de deputado estadual, como suplente em 1965, um dos meus compromissos era o de lutar pela cessão às prefeituras dos prédios das estações da Estrada de Ferro Leopoldina, cujos ramais tinham sido extintos por Jânio Quadros. Para esse fim apresentei na Assembléia Legislativa indicação ao Ministro da Viação, Juarez Távora. A Rede Ferroviária Federal, detentora de seu acervo, considerou a utilização dos prédios desnecessária aos serviços ferroviários. Na época, a maioria das sedes das prefeituras era localizada junto às câmaras municipais, em prédios antigos e acanhados, como o caso de Bom Jardim e de Nova Friburgo.

Com esse objetivo, convidei para uma reunião em Nova Friburgo, os prefeitos e presidentes de câmaras dos municípios onde as estações se localizavam, principalmente, as do centro-norte e da região serrana. O encontro foi realizado no dia 7 de agosto de 1965, a ele comparecendo treze prefeitos, presidentes de câmara e diversos vereadores. Contei com a presença dos prefeitos Heródoto Bento de Mello (Nova Friburgo), Flávio Bortoluzzi (Teresópolis), Renato Felix (Santa Maria Madalena), José Miranda (Trajano de Moraes), Henrique Frauches (Cantagalo), Manoel Gomes Araújo (Carmo), César Monteiro (Cordeiro), Álvaro dos Santos Pinheiro (Itaocara), Waldemar Teixeira Ponciano (Sumidouro), José Carlos Varella (Maricá) e o vereador Armando Lemos, representando o Prefeito de Bom Jardim, Walter Vendas Rodrigues. Marcaram presença também, diversos presidentes de câmaras municipais, entre eles Samuel Souza (Bom Jardim), Walter Feijó (Santa Maria Madalena), Maximino dos Santos (Teresópolis), Antônio Lutterbach (Carmo), José Dermeval Pinto (Cordeiro) e o presidente da Câmara da cidade anfitriã, Sidney Soares.

Ao final da reunião, os presentes deliberaram credenciar o deputado estadual Erthal Rocha para, em nome dos municípios interessados, dirigir-se ao Ministro da Viação e ao presidente da Rede Ferroviária Federal para expor a situação e pleitear a cessão dos prédios, a título gratuito, uma vez que, em sua maioria, eram deficitários e sobreviviam com a ajuda do governo estadual. Ficou deliberado, ainda, a remessa de telegrama ao Governador Paulo Torres, ao Senador Vasconcellos Torres e aos deputados federais fluminenses do seguinte teor: “Em nome de treze prefeitos reunidos em Nova Friburgo, venho solicitar apoio de Vossência campanha cessão prédios ramais ferroviários extintos instalação prefeituras, escolas, rodoviárias ou outros fins úteis à coletividade, solicitando, outrossim, intercessão Vossência junto ao ilustre Ministro da Viação Juarez Távora e ao eminente Presidente Castelo Branco. Prefeitos informaram pretende Rede Ferroviária alienar melhor oferta, preço impossível para as Prefeituras. Respeitosas saudações. Deputado estadual Erthal Rocha”.

Credenciado pelos prefeitos dos 13 municípios, solicitei a interferência do Governador Paulo Torres (eu estava licenciado da chefia da secretaria de imprensa do Governo/ RJ.) para obter uma audiência com Juarez Távora (que já conhecia de São Pedro da Aldeia onde ele tinha casa, por ocasião de minha campanha eleitoral). A audiência foi logo agendada. Fiz exposição ao Ministro da pretensão das prefeituras, e este, prontamente me encaminhou ao presidente da Rede Ferroviária Federal, coronel-engenheiro Paulo Nunes Leal. Após minha exposição, ele foi incisivo, dizendo que a Rede não doava os prédios, mas sim os vendia pelo preço de mercado. E arrematou: qualquer proposta de compra dos imóveis deve ser feita diretamente à Urbanizadora Ferroviária S.A., que cuidará do assunto. Não desanimei, tampouco os prefeitos e os vereadores. Terminado meu mandato, continuei com a campanha através do Grande Jornal Fluminense, transmitido pela Rádio Jornal do Brasil e da imprensa, pois a causa era oportuna e justa. As estações estavam abandonadas e seriam de grande utilidade para os municípios. Mais tarde, várias prefeituras conseguiram os prédios, entre elas a de Bom Jardim (foto), onde instalou o gabinete do prefeito e os serviços burocráticos, passando posteriormente para o atual prédio; a de Cordeiro, onde foi instalada a rodoviária e a de Nova Friburgo, onde se encontra até hoje a sede da municipalidade na Rua Alberto Braune. A Polícia Militar conseguiu a estação de cargas, onde instalou o seu Batalhão. Esta foi a luta das sacrificadas prefeituras daquela época, de tanta dificuldade financeira, ao contrário da atualidade, com a colaboração de um jornalista e simples suplente de deputado estadual para a obtenção das estações desativadas da Estrada de Ferro Leopoldina em benefício de seus municípios.

(*) Célio Erthal Rocha é jornalista, advogado, membro do IHG/BJ. e articulista do JORNAL MAIS BJ + NF. E-mail: erthalrocha@terra.com.br

Para saber mais sobre estações ferroviárias desativadas ou sendo ocupadas por serviços públicos, acesse: http://www.estacoesferroviarias.com.br