quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Coluna do A. Magno

Bom Jardim, o sonho que se realizou!

A. Magno

Levantávamos bem cedinho, colocávamos o embornal a tira-colo carregado com pedras e chumbos – normalmente roubados – e a mortífera “seta” pendurada no pescoço. Reuníamo-nos na esquina da Rua Leopoldo Silva com Américo Rocha onde após traçarmos os planos, partíamos para os morros à caça de indefesos passarinhos. Durante a caçada, saborosas frutas eram furtadas e o seu final sempre terminava com uma boa guerra de café entre os caçadores.

Na adolescência propriamente dita, as caçadas, as guerras de café, bem como as guerras de barro no período chuvoso, foram substituídas pelo namoro, pelas primeiras experiências sexuais, pelos bailes, pelas sinucas do Bar do Verinho, pelo desejo de jogar no juvenil do Bom Jardim Esporte Clube e pelos papos na Praça Cel. Monnerat. Porém, mesmo em meio a tantas benesses, iniciavam neste período as primeiras preocupações em busca de uma profissão que nos daria a independência financeira. A partir daí, iríamos “aprender” para que mais tarde pudéssemos “compreender”.

Tão logo os ex-caçadores e ex-guerreiros de café se profissionalizaram aprenderam e se conscientizaram do significado de palavras tais como: Capitalismo, comunismo, socialismo, produtividade, PIB, renda per capita, expectativa de vida, nível de escolaridade primeiro mundo, subdesenvolvimento, desenvolvimento e outras. Talvez para aqueles que tiveram de deixar a terra natal por questões profissionais, com tais conhecimentos, olhavam para Bom Jardim com “tristeza”, pois já estávamos chegando ao final dos anos 60 e víamos que passados quase 30 anos o município havia “parado no tempo”.

Em 1969, jantando com o ex-caçador e ex-guerreiro de café, Jarbas F. Rodrigues em Nova Friburgo, ao conversarmos sobre a nossa terrinha ele falou-me:

– Tuninho, eu sonhei um dia ver Bom Jardim com fábricas para poder se desenvolver e sair desta mesmice de sempre.

Apertei-lhe a mão e disse:

– Compartilho-me de seu sonho.

Em 1971, desta feita em Teresópolis, depois de falarmos bastante sobre a terrinha querida concluímos: “Sabe de uma coisa? Esta “m’ não tem jeito que dê jeito... Que tal se colocássemos porteiras nas entradas do Município, plantássemos capim, cercássemos com arame farpado e criássemos boi?”

Em 1974, na gestão do Dr. Adelque F. Rodrigues, quando soubemos da vinda da energia elétrica de Furnas para Bom Jardim, nos telefonamos e exclamamos: “Agora a coisa vai!...”

Mas o tempo continuou passando e nada mudava. Em 1986 um maldito câncer levou Jarbas, levando com ele o sonho de um Bom Jardim diferente, progressista, que tivesse uma melhor qualidade de vida.

Em 2001, de passagem por Bom Jardim, amigos perguntaram-me:

– Na sua visão, por que nossa terra não se desenvolve?

Baseando-me no desenvolvimento do Nordeste, do qual eu era pioneiro desde 1965, respondi:

– Se um dia houver bons incentivos por aqui, os investimentos aparecerão, tal como no Norte e no Nordeste. Caso contrário, esqueçam... Neste ano, com muita tristeza, deixei Bom Jardim, pois o quadro que nele se desenhava era assustador...

Em novembro de 2007, retornando para a terrinha onde passei dois maravilhosos anos junto de novos e de velhos amigos pude constatar outro Bom Jardim. Vi um Bom Jardim crescendo em todos os sentidos. Vi um Bom Jardim que cresce em nível de China, ou seja, a 9,8%. Vi o Bom Jardim do “sonho de Jarbas”.

Em julho deste ano (2010) em virtude de uma nova missão de vida retornei para o Nordeste. Retornei saudoso, porém, feliz com o meu amado e hoje, próspero Bom Jardim.

Assim sendo, à gestão municipal Afonso Monnerat / Dr.Paulo Barros, respeitosamente, meus parabéns pela administração de minha terra.

Aos meus queridos amigos, muito obrigado pelos abraços, pelos apertos de mão, pelas risadas, pelas histórias contadas e ouvidas no banco da praça Cel. Monnerat. Em suma, pelo acolhimento carinhoso que me deram.

Feliz Ano Novo, minha terra querida!

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