quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Dr. Péricles – A tragédia (2ª parte)

(*) Erthal Rocha

Convivi com Dr. Péricles Corrêa da Rocha, (primo de meu pai), nas duas últimas décadas de sua existência terrena e, principalmente, após assumir a presidência do Banco Agrícola de Cantagalo. Em sua gestão passou de instituição regional a estadual, com instalação de agências em diversos municípios, inclusive com filial na antiga capital da República, até ser absorvido pelo Banerj.

Fui seu advogado e de Dona Julica de Sá e Rocha, durante sua viuvez. Por generosa determinação de Julica, como era carinhosamente chamada, providenciei, ao lado do saudoso amigo e dedicado funcionário da Companhia Duca de Paula Pinto, escrituras de doação de terrenos, em Bom Jardim, em favor de muitos dos empregados da Companhia e Industrial Agrícola Luiz Corrêa. Reflexo de seu espírito generoso, à semelhança do de seu marido.

Dei assistência, ainda, como advogado da Cia. Agrícola Luiz Corrêa, na escritura de desapropriação de excelente área de terra onde foi instalado o Horto Florestal Municipal, na sede de Bom Jardim, na Av. Walter Vendas Rodrigues, ao lado da antiga via férrea. O decreto foi expedido pelo Prefeito Benedito Coube de Carvalho. Levei o seu teor para a apreciação de D. Julica, afirmando-lhe que estava abaixo do preço de mercado e se autorizava a contestação judicial. Suas palavras “Se é para favorecer o povo de Bom Jardim que sempre estimei e fui sempre por ele estimada, façamos a escritura como está!”.

Em 1932, terrível acidente ferroviário causou a morte de Dona Eugênia Boechat, esposa do Coronel Luiz Corrêa e da filha caçula Odete, ficando feridos seu marido, Godofredo Brandão Graça e Dr. Péricles. A tragédia abalou profundamente a estrutura da família. A causa do acidente é explicada por Marta Novis, no livro. A viagem de automóvel de Bom Jardim ao Engenho Central era extremamente penosa por precária e poeirenta estrada de terra. Dr. Péricles precisava fazer esse trajeto constantemente. Com seu inegável prestígio junto à Estrada de Ferro Leopoldina, da qual era um dos maiores usuários, Luiz Corrêa conseguiu daquela empresa uma coisa inteiramente irregular: um trolley de linha férrea movido por um possante motor de automóvel. O trajeto entre Bom Jardim e o Engenho Central (Itaocara) passou a ser feito em duas horas e meia. Numa das viagens, o limpa-trilhos soltou-se e fez o carro capotar, ocasionando a tragédia, com a morte de duas familiares e trágicas conseqüências. O relacionamento entre pai e filho ficou abalado durante quinze anos.

Lembro-me do sepultamento de Dr.Péricles, em 1969, no Cemitério de São João Batista, no Rio, com numeroso acompanhamento, incluindo seus amigos pessoais, o Brigadeiro Eduardo Gomes, o deputado federal, Prado Kelly, mais tarde Ministro do Supremo Tribunal Federal e o engenheiro Bandeira Vaughan, autor do projeto da usina elétrica de Bom Jardim, em 1917. Na ocasião, falou, em nome do povo fluminense, o deputado estadual e jornalista Alberto Torres exaltando as virtudes seu correligionário político.

Da família Darrigue de Faro foi destacada a trajetória da matriarca Zita Darrigue de Faro e de seu filho, o arquiteto Frederico Darrigue de Faro Filho chamado de Frederiquinho, para diferenciá-lo do pai. Dona Zita foi uma grande mulher, dotada de inegável bravura. Ainda jovem, com o filho menor em sua companhia, teve a coragem de se separar do marido, por não suportar sua vida boêmia e irresponsável.

Passou a viver de seu modesto salário de professora. Conseguiu internar seu filho no Colégio Pedro II (o melhor e mais famoso do Rio de Janeiro da época), no qual passou em primeiro lugar. Educou-o e o preparou para os embates da vida, tornando-o um renomado arquiteto. Ele foi o filho querido que Deus deu ao Dr. Péricles e Julica, tendo sido o braço direito do casal, em todos os sentidos. Arquiteto notável, foi um dos diretores da firma F.P. Veiga & Faro Filho – Engenharia e Arquitetura, responsável por diversos empreendimentos na cidade do Rio de Janeiro. Não se pode esquecer que a Igreja de Nossa Senhora do Brasil, na Urca, foi um projeto de sua autoria, representando atração turística por todos admirada.

(Seguirei com outros acontecimentos, inclusive com a cisão política, em 1924, entre as Famílias Côrrea da Rocha e Erthal, com graves reflexos para Bom Jardim)

(*) Célio Erthal Rocha- E-mail: erthalrocha@terra.com.br - é jornalista, advogado, membro do IHG/BJ e articulista do Jornal MAIS BJ+NF.

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