E
o velhinho era eu...
A.
Magno
Como a reunião se
prolongou até a noite, resolvi viajar para Recife no dia seguinte. Assim sendo,
procurei um hotel para pernoitar.
Dormi tranqüilo e por
volta das 6h30 eu já me encontrava no refeitório para tomar o café da manhã.
Apenas por uma questão de hábito, sempre que me sento em algum lugar
desconhecido, prefiro dar as costas para a parede e ter uma melhor visão de
quem entra e de quem sai do local.
Assim, depois de encher
a minha bandeja com tudo que tinha direito, sentei-me no lugar escolhido e
calmamente, passei a saborear “mon café matin”.
No entra e sai de
pessoas, sentou-se um casal, cuja mulher aparentava uns 60 anos de idade e o
homem uns 85 anos. De frente para os dois percebi que vez por outra,
discretamente, o homem falava alguma coisa com a mulher que não a deixava muito
à vontade. Mais adiante, percebi que o ti-ti-ti deles tinha alguma coisa a ver
com a minha pessoa. Mas, o que fazer? Até então, nada... Como o casal terminou
o café primeiro do que eu e se quisesse sair do refeitório teria de passar pela
minha mesa, resolvi pagar para ver os acontecimentos.
Um pouco mais, os dois
se levantaram e vieram em minha direção. Pararam e o homem falou:
– Com licença de
atrapalhar o seu café.
Mesmo com a voz um
pouco embolada como se tivesse sofrido AVC e fisionomia abatida, ele não me era
estranho. Percebendo que ele queria perguntar-me algo, respondi:
– Pois não, amigo. Fica
à vontade.
Aí, o homem continuou:
– Eu não sei se estou
fazendo confusão, mas, eu já lhe vi em algum lugar.
– Bem, é possível...
Afinal, o mundo é pequeno...
O homem ficou pensando
e disse:
– Depois que eu sofri
um AVC, eu fiquei meio confuso, mas mesmo assim, que mal lhe pergunto, você é
daqui da terrinha ou é do “Ricife”?
– Eu resido em Recife a
um bom tempo.
– Ah!... Então é
de lá que eu lhe conheço! Pois eu também morei por lá durante uns três anos.
Como eu não
registro bem fisionomias, falei:
– Olha... Você
também não me é de todo desconhecido.
Mas aí, resolvi
perguntar:
– Em que bairro
você morou em Recife?
– Bem, eu morei
no Derby e no Cordeiro.
– Então, deve
ser do Cordeiro que você me conhece, pois eu moro lá – respondi. – Mas, em que
parte do bairro você morou?
– Eu morei no
final da antiga rua da lama, próximo da pizzaria – respondeu.
– Eu também...
Aí, o homem que
eu ainda não sabia quem era, falou:
– Ah!... Então
você deve ter conhecido um grande amigo que eu tinha lá.
– Como é o nome
dele?– perguntei.
– Olha, o nome
eu não me lembro. Mas me recordo que era um “velhinho bem magrinho com cara de
doentinho”, que vez por outra, andava pelas calçadas puxando um cachorrinho. E
era nessas ocasiões que a gente jogava umas conversas fora.
Ao ouvir dizer,
um velhinho bem magrinho, puxando um cachorrinho, eu falei:
– Ah, essa
pessoa morreu ano passado aos 97 anos de idade!Todos o conheciam por Zé da Lata.
Aí, o homem
pensou e contestou:
– Não!... Esse
meu amigo, “se” ainda estiver vivo, deve ter uns 80 anos de idade ou no máximo
uns 82, porque eu era um pouco mais velho do que ele.
Diante da
resposta do homem, falei:
– Olha, eu não
sei quem é esse velhinho magrinho que você se refere, mas posso tentar saber...
Como eu
precisava viajar, despedi-me e perguntei:
– Mas, qual é o
seu nome?
– Eu me chamo
Osvaldo Catarina.
Dias depois, fui
à casa de G. Papudinho – antigo morador da rua – e perguntei se ele conhecia tal
de Osvaldo Catarina que havia morado perto da Pizzaria. Papudinho deu uma “gaitada”
e falou:
– Homi! Tá
lembrado, não?! E esse cabra não é aquele mentiroso que a turma chamava de
“Coronel mentirinha”!
– Huuuumm!... Tô
lembrado!...
Foi então que eu
cheguei à conclusão que o tal velhinho magrinho com cara de doentinho, que o
Osvaldo pensava já ter morrido, graças a Deus era “eu”.
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