quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Coluna do A. Magno

Não era o meu dia...

A. Magno

Desde que me aposentei, passei a ser um caçador de promoções em supermercados.
Assim, há dias andando pelas ruas de Nova Friburgo, ao passar por um supermercado, tabuletas anunciando diversas promoções me chamaram a atenção, e aí, resolvi dar uma boa olhada. Peguei um daqueles carrinhos – normalmente com alguma roda presa e puxando pro lado – e fui à caça. Tão logo entrei num dos corredores e parei para checar uma das promoções, um branquelo cabelo de fogo, que naturalmente vinha pensando na morte da bezerra (no mundo da lua), deu-me uma esbarrada com o seu carrinho em meu calcanhar. Mesmo o cara pedindo imensas desculpas, mas, no momento não tem cristão que ao virar-se para trás, não tenha vontade de exclamar: “Filho da p...”
Mas, após escolher os produtos que me interessavam, fui em direção ao caixa de idosos já que os outros estavam cheios. Entrei na fila e, logo em seguida, veio uma sessentona baixinha e narigudazinha, que mal chegou e foi dizendo:
– Moço, mas que calor tá fazendo hoje! Não é?
Como não sou muito de dar conversas a desconhecidos, simplesmente respondi:
– É...
Aí, ela virou pra cá e pra lá e voltou à carga:
– Pensando bem, eu nem sei o que vim fazer aqui só pra comprar essa porcaria deste desinfetante! Que coisa! Não é mesmo, moço?
Entendendo que a baixinha era daquelas que têm uma necessidade desgraçada de falar – e eu sem vontade de ouvir –, continuei na minha e respondi: – É... Mas ela continuou falando, doida que eu entrasse no papo: – Sei, não... Pois olha que tem horas que nem eu me entendo! Eu devia estar em casa descansando para o casamento que logo a noite vou a Cachoeiras e, no entanto, continuo aqui numa fila de velhos, segurando esta porcaria desta garrafa de detergente. Que coisa! Não é moço?
Com o andar lento da fila de idosos, meu calcanhar dolorido e a voz irritante da mulher, desta feita fui mais longe um pouquinho e respondi: – É isso aí... Mas, felizmente, chegou a minha vez no caixa. Passei as compras, o caixa me deu a nota de compras e eu dei-lhe meu cartão de crédito. O caixa acionou a máquina registradora e perguntou:
– O senhor tem “identidade”? Diante da pergunta, respondi na íntegra: – Tenho... Aí, o caixa educadamente, falou:
– Pra sua própria segurança, o senhor poderia apresentá-la?
Respondi que sim e, imediatamente, abri a carteira e a primeira identidade que me veio à mão eu a entreguei “sem olhar a foto”. O caixa apanhou-a, olhou-a com cara de desconfiado e disse:
– É, eu já vi que o senhor é uma pessoa brincalhona..
– Eu?... Não!... Principalmente hoje, que estou com o calcanhar doendo e esta mulher daqui de traz me enchendo o saco.
Porém, o caixa insistiu:
– Pois eu tenho certeza que o senhor está brincando comigo.
– Meu amigo!... Eu nem lhe conheço, como é que eu vou tirar brincadeiras com você? Mas, finalmente, por que você está insistindo nisto?
Aí, o caixa devolveu-me a identidade e indagou:
– Esta pessoa aqui da foto é o senhor?
Foi então que vi a “m” que tinha feito. Simplesmente, dei-lhe a identidade da Luciana, que também se encontrava dentro de minha carteira. Pedi desculpas ao jovem caixa, assinei a nota de compras, peguei as sacolas e zarpei para não me acontecer nenhuma outra no supermercado.

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