sexta-feira, 20 de abril de 2012

Coluna do Magno


CURANDEIROS NUNCA MAIS!


                                             A. Magno 


 Próximo da fábrica morava Zé das Cabras, cujo apelido era devido a sua criação de cabras. Falante, orelhudo e cabeçudo, pelo jeitão já tinha uns 65 anos de idade e era tido pela vizinhança como bom “curandeiro”. Suas garrafadas faziam milagres.
Normalmente, quando eu me aproximava da portaria da fábrica já encontrava o Zé com uma varinha na mão pastorando a bicharada num terreno baldio.
Num certo dia, as cabras em vez de irem para o tal terreno, estavam espalhadas pelo meio da rua impedindo-me de passar com o carro. Dei umas duas buzinadas e ouvi o Zé dizer:
– Já vai dotô! Já vai avexado!...
Zé das cabras tocou os bichos, veio até o carro e disse:
– Desculpa o atrapalho, visse dotô!
- Que nada, seu Zé – respondi tranqüilo. Mas, aproveitando o embalo, perguntei:
– Ô seu Zé, esses bichos dão muito trabalho?
– Mais ou menos, dotô... E por falar nisso, tem uma safada aqui que eu tô de olho nela.
– Não entendi seu Zé... Por quê?
Aí, o velho apontando para uma cabra amarelada, falou:
– Tá vendo aquela safada ali? Eu to desconfiado que ela tá “transando” com o filho de um vizinho. Mas... Ai deles seu pegá!... A safada eu mato e vendo pro açougueiro e, no safado eu vou dar uma pisa de cipó umbigo de boi que eu só vou parar de bater quando ele tiver todo mijado calça abaixo.
Lembrando-me de alguns “zoofílicos” bom-jardinenses de meu tempo de moleque, dei uma baita gargalhada. Espantado, o velho indagou:
– Por que o sinhô tá rindo tanto dotô?
–– Nada de mais seu Zé – respondi rindo.
Passados alguns meses, devido às comidas gordurosas e picantes servidas pelo refeitório da fábrica, entrei numa violenta crise de “hemorróidas”. Aí, tentando evitar o médico da fábrica, abri o jogo com um colega, o qual, disse:
– Pô, bicho!... Isso aí é bronca safada!Eu também já passei por isso e quem me resolveu o problema foi o Zé das cabras com os medicamentos de plantas que ele fabrica. Fala com ele.
– O Zé das cabras?!...
– Sim, o Zé das cabras. – confirmou o colega.
Doido para me livrar dos incômodos das hemorróidas, fui até a casa do Zé e contei-lhe a minha história. Ele, pensativo e numa pose de guru, indagou:
– Dotô a sua hemorróida é do tipo “botão” ou do tipo “encruada”?
Sem entender direito a pergunta, mas doido por uma solução, respondi que era do tipo “botão”.
– Óxente, dotô! Hemorróida do tipo botão é bronca safada, visse?
“Ufa! Ainda bem”!– pensei todo animado.
Zé das cabras então me passou a seguinte receita para ser usada antes de dormir: Dissolver em meio copo d’água um toletinho de fumo de rolo até ficar uma massinha. Em seguida, enfiar tudinho no “fi- o - fó” e dormir.
Achei estranho, mas...
No dia seguinte, diante das assaduras que o fumo de rolo me causou à região anal eu tive vontade de matar o filho da “p” do Zé das cabras. Por dois dias eu fiquei andando que nem um caubói cagado. Porém, tão logo melhorei das assaduras, fui até ele e falei:
– Seu Zé!... Eu sei que de médico e de louco cada um tem um pouco. Porém, o senhor deve de ser mais do que isso, porque aquela porcaria que o senhor me receitou, quase me matou.
Zé das cabras contraiu a testa e rebateu a minha agressão:
– Pera lá dotô! Se a minha receita num funcionou, então a sua hemorróida não era de “botão”, já era “encruada”. Aí dotô, a culpa foi sua que me informou errado, entendeu?

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