Decepção na primeira entrevista
A.Magno
Eu não sei como a coisa funciona hoje
Apesar da época (1964) ser de vacas gordas quanto ao mercado de trabalho, ainda assim, eu não havia conseguido um local para estagiar. Nesta época, o primo Dudu Moraes (Álvaro Luis Correa de Moraes) andava pelo Rio de Janeiro e, num de nossos encontros no famoso 904 da Benjamin Constant na Glória, conversando com ele sobre a minha preocupação referente ao tal estágio, Dudu ao ouvir-me, falou:
– Ô primo, só não tem solução pra morte. Isso aí, se resolve...
Depois de uns 15 dias, Dudu me telefonou, dizendo:
– Ô primo, aquele seu assunto, já está resolvido.
– Qual assunto?
– Pô, primo!... O negócio do seu estágio remunerado!
– Hum!...
– Olha! Vamos acertar tudo direitinho ainda hoje por volta das 16h00min, lá no Amarelinho, certo?
– Tá certo, Dudu!– confirmei todo contentinho.
Próximo da hora marcada no Amarelinho chegaram Dudu e um amigo por nome Rômulo, ao qual, fui imediatamente apresentado. Como o Rômulo já sabia da minha história, dirigiu-se a um orelhão – naquele tempo, nem através da ficção se pensava em celular – enquanto Dudu e eu o aguardávamos. De volta do orelhão, bateu-me no ombro e disse:
– Bicho, eu acabei de acertar o seu estágio com um empresário amigo meu. Portanto, amanhã às 17h, compareça neste endereço aqui de meu cartão, apenas para vocês se conhecerem e acertarem o dia de sua ida para Teresópolis onde fica uma das fábricas do meu amigo, tá certo?
Depois que agradeci ao Rômulo, Dudu perguntou-lhe se o escritório que eu iria ao dia seguinte na Av. Rio Branco era o do “carcamano narigudo”. Rômulo confirmou que era. Aí, Dudu recomendou-me:
– Primo o narigudo tem uma Secretária que é um monumento de mulher e, a sacana sabe que é boa e sabe provocar a gente. Mas... Não entre na dela não, porque ela é caso do patrão e aí, já viu...
- Fique tranqüilo– respondi.
No dia seguinte e na hora marcada, lá estava eu diante das torneadas coxas e das provocantes cruzadas de pernas da tal secretária à espera do empresário para a minha primeira entrevista.
Depois de um bom chá de cadeira, a boazuda levou-me até ao empresário, que sinalizou com a mão para que eu me sentasse enquanto ele – diante de mim – tomava uma jarra de bom suco de laranja com biscoitos recheados, “sem me oferecer”. Sem saber que o pior ainda estava por acontecer, eu o olhava por debaixo dos óculos e com água na boca, pensava: ”Pô!.. Que cara mal educado?”.
Tão logo ele terminou o lanche, limpou a boca e as mãos num lenço, apanhou um papel rascunho, uma bela caneta e perguntou-me com “sotaque bem gutural”:
– Por favorrr, qual é a sua grrraça?
Bastante tenso por me encontrar pela primeira vez diante de um Empresário, respomdi:
– “Antônio Magno Alonso Lopes de Almeida”.
O Empresário fintou-me e disse:
– Por favorrr, queirrra repetir “silaba porrr silaba”.
Mesmo ainda tenso, percebi que enquanto eu ia repetindo sílaba por sílaba, ele ia somando-as nos dedos e, quando terminei, exclamou:
– Puxa vida! Trinta e duas letras! Que nome grrrande! Eu não vou nem anotar parrra não “gastarrr a tinta” de minha caneta!
Ele guardou a caneta, deu uma breve pausa e disse:
– Bem, se o senhorrr quiserrr mesmo estagiarrr comigo, comparrreça na prrroxima segunda feirrra neste enderrreço em Terrresópolis, certo?
Passados uns dois dias o Dudu telefonou-me:
– E aí primo, quando viajará para Teresópolis?
Dei uma risada e, quando mal terminei de contar-lhe a decepção que tive com a miserabilidade do empresário, Dudu soltou os cachorros:
– Pô, primo!... Que carcamano filho da “p”!...
Obs.: Dudu Moraes era o irmão mais velho do empresário Aloisio M. Correa de Moraes
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