quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Nova ortografia da língua portuguesa já está em vigor

Agora é para valer. Entrou em vigor a partir do dia 1º, o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, firmado desde 1990 entre os oito países que falam português (Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste) e que modifica uma série de regras na maneira de grafar algumas palavras. Mas ninguém precisa se assustar. O ideal é começar a adotar o quanto antes a nova ortografia. Haverá um período de transição de quatro anos, quando serão aceitas a nova grafia e a atual. Além disso, no Brasil as alterações não serão tão grandes, atingindo apenas 0,5% das palavras. Mesmo assim, cerca de 300 mil palavras terão sua grafia modificada. Vale lembrar que a reforma unifica apenas a maneira de grafar as palavras, conservando as pronúncias de cada país. As mudanças mais significativas alteram a acentuação de algumas palavras, extinguem o uso do trema e sistematizam a utilização do hífen.

As principais mudanças:
Alfabeto - Com o acordo, o alfabeto passa a ter 26 letras, com a inclusão de k, y e w. A utilização dessas letras permanece restrita a palavras de origem estrangeira e seus derivados, como kafkiano.
Trema - Desaparece por completo, a não ser em nomes próprios e seus derivados. Ex. Linguiça e não lingüiça; frequencia e não freqüência.
Hífen - Será mantido nos substantivos compostos como arco-íris e guarda-chuva, mas cairá em compostos nos quais “se perdeu a noção de composição”, como paraquedas e paraquedista.
Será colocado quando a última letra da primeira palavra e a primeira letra da segunda palavra forem as mesmas.Ex. Micro-ondas; anti-inflamatório.
Cai quando a primeira palavra termina por vogal e o segundo elemento começar com S ou R, devendo estas consoantes ser duplicadas. Ex. Hiperrealista e não hiper-realista; contrarregra e não contra-regra; antirreligioso e não anti-religioso; antissemita e não anti-semita.
Exceção: Será mantido o hífen quando os prefixos terminam com R, como hiper, inter e super. Ex. Hiper-requintado, inter-resistente e super-revista
Não se usará mais quando o primeiro elemento terminar com vogal e o segundo começar com uma vogal diferente. Ex.Autoestrada e não auto-estrada; extraescolar e não extra-escolar; aeroespacial e não aeroespacial; semiaberto e não semi-aberto.
Acento circunflexo - Cai nas terceiras pessoas do plural do presente do indicativo ou do subjuntivo dos verbos crer, dar, ler, ver e derivados. Ex. Creem e não crêem; deem e não dêem; leem e não lêem; veem e não vêem.
Cai em palavras terminadas com duas vogais. Ex. enjoo e não enjôo; voo e não vôoAcento agudo.
Cai nos ditongos abertos ei e oi de palavras paroxítonas. Ex. Assembleia e não assembléia; ideia e não idéia; jiboia e não jibóia; heroica e não heróica.
Cai em paroxítonas com i e u tônicos, quando precedidas por ditongo. Ex. Feiura e não feiúra; baiuca e não baiúca.
Cai nos poucos verbos que têm o acento tônico na raiz, com u tônico precedido de G ou Q e seguido de E ou I. Ex. Averigue e não averigúe; arguem e não argúem; apazigue e não apazigúe Acento diferencial.
Caem parcialmente os acentos diferenciais.Ex. Não se usará mais o acento para diferenciar pára (flexão do verbo parar) de para (preposição), mas se mantém o de pôr (verbo) em oposição a por (preposição)
Dupla grafia - A unificação na ortografia não será total. Como a reforma privilegiou mais critérios fonéticos (pronúncia) em lugar de etimológicos (origem), será permitida a dupla grafia em algumas palavras. Isso vai ocorrer em algumas palavras proparoxítonas e, predominantemente, em paroxítonas cuja entonação entre brasileiros e portugueses é diferente, com inflexão mais aberta ou fechada. Enquanto no Brasil as palavras são acentuadas com o acento circunflexo, em Portugal utiliza-se o acento agudo. Neste caso, ambas as grafias serão aceitas, como em fenômeno ou fenómeno, tênis e ténis. A regra valerá ainda para algumas oxítonas. Palavras como caratê e crochê também poderão ser escritas caraté e croché.
Os prós e contras da reforma - Após décadas de debates, de inúmeros avanços e recuos, sai, enfim, do papel a reforma ortográfica que unifica a língua portuguesa. Já não dá para discutir. Queiramos ou não, as mudanças estão aí e devem começar a ser aplicadas, pois já estão valendo. Claro que haverá um período de adaptação bastante longo – quatro anos –, período no qual será válido grafar as palavras ainda da forma antiga. Mesmo assim, o quanto antes passarmos a utilizar as novas regras, melhor. Há quem questione a validade da reforma ortográfica, mas, na verdade, o fato de ter duas ortografias atrapalha e muito a divulgação da língua portuguesa, que está, aliás, entre as dez mais faladas no mundo, por cerca de 210 milhões de pessoas.
A unificação é o principal argumento dos linguistas e filólogos, que se bateram pela aprovação da reforma idealizada em 1990 pelo escritor e filólogo Antônio Houaiss. Afinal, o inglês tem um padrão, assim como o espanhol ou o alemão. Por que, então, cada país que fala português escreve de um jeito? Não se pode negar que uma ortografia padrão facilitará o intercâmbio cultural entre os países que falam português. Livros, inclusive os científicos, poderão circular livremente entre os países, sem necessidade de revisão, como já acontecia entre aqueles que falam inglês ou espanhol. Além disso, o ensino do português nos países que falam este idioma pode ser padronizado. Por outro lado, muitos linguistas, escritores, jornalistas, enfim, pessoas que lidam diretamente com a língua alegam que a reforma desrespeita a estrutura da língua e é muito superficial. Sem falar nos aspectos econômicos da questão, uma vez que será preciso reeditar livros, dicionários, enfim, refazer todo o vocabulário ortográfico. Ou seja, a tão badalada reforma, que vai complicar a vida de todo mundo, seria muito mais uma reforma política, de gabinete, do que ortográfica

Nenhum comentário: