quarta-feira, 15 de abril de 2009

Que a Luz traga Luz


Por A. Magno

Há dias, tentando encontrar um bendito orelhão em perfeito funcionamento para se telefonar, fomos parar próximos ao velho Cine Bom Jardim – palco de tantas alegrias por proximamente 20 anos. Não obstante, enquanto telefonávamos, algo despertou-me a atenção, por isso, aproximando-me um pouco mais, pude constatar dois focos de luz azul direcionados para a parte frontal superior do cinema, transformando sua fisionomia de velho sorumbático, deprimido e desmotivado em uma fisionomia, se ainda não jovial, pelo menos, com vontade de voltar a sorrir.
Contemplando o seu novo visual noturno, lembranças e lembranças surgiam a cada instante, principalmente do “unforgettable” dia de uma inauguração em 1954, quando eu tinha meus 12 anos de idade. É gostoso, é gratificante a gente poder relembrar acontecimentos felizes e estimulantes. Mas, uma forte chuva que ameaçava cair sobre a cidade, interrompeu um estado contemplativo, levando-me, por sorte, ao encontro de Mauro Barreto, que voltava da igreja. Sem perder tempo, perguntei-lhe:
— Mauro, quando e onde poderíamos conversar sobre a “inauguração do Cine Bom Jardim”?
Mauro abriu um largo sorriso e disse:
— Ué! Amanhã mesmo, às 17 horas, em seu escritório.
— Em meu escritório?!
— Sim! Lá no banco da praça da Matriz.
— É ruim, heim!
No dia seguinte, às dezessete em ponto, lá chegou Mauro Barreto. Nos acomodamos e imediatamente dei início às seguintes perguntas sobre o dia “D” do velho cinema:
— Mauro, qual foi a data de inauguração do Cine Bom Jardim?
— Foi precisamente em 10 de janeiro de 1954, num domingo.
— Qual foi o filme de estréia?
— Ah! Foi o filmaço “Pelo Vale das Sombras”, com Gary Cooper e Laraine Day. Uma produção da Paramount Pictures.
— Nesse dia, houve quantas sessões?
— Foram três, nos seguintes horários: 16h, 18h30min e 21h30min. Nesse dia, a fila era tão grande que o seu final ia até onde hoje é o Superthal e todas as três sessões estavam com lotação máxima. É mole?
— Você ainda se recorda do valor cobrado?
— Lembro-me perfeitamente. Foi preço único de Cr$ 6,00 (seis cruzeiros), cujo valor na moeda de hoje, eu não sei a quanto corresponderia.
— Mauro, vamos aos nomes e respectivas funções dos funcionários do cinema?
— Deixa-me ver: gerente – Constâncio O. Pinto, lanterninha – Hercílio Barreto, porteiro – Luiz Bianco, operadores – Luiz Carlos Santos e Sílvio Santos, Bilheteira – Leia Dias.
Enceramos nossa conversa, recebendo de Mauro Barreto uma cópia da primeira “programação de filmes da primeira semana” (REPRODUÇÃO ACIMA), bem como, torcendo para que uma luz também ilumine as nossas autoridades, no sentido de tornar o velho cinema em algo de utilidade pública cultural.

C. T. Sugerimos um terceiro foco de luz para iluminar os letreiros.

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