quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Coluna do Magno

Sim ou não?

A.Magno

Foi numa conversa sobre empresas que ouvi de meu amigo Caetano a história que se segue.

Contou-me ele, que Valdir era o Contador chefe ha uns 18 anos da filial em Recife de uma grande empresa paulista. Valdir era competente, porém, tão prolixo que as suas explicações não só eram cansativas como irritavam a qualquer cristão.

Nessa época, a matriz enviou um novo diretor para a filial de Recife. O cara era ainda jovem, cheio de gás e doido para mostrar serviços. Como bom paulista que vem para o Nordeste, era prepotente e arrogante. Na reunião de sua apresentação como o novo diretor o Dr. Franklim, sem muitas delongas foi curto e grosso:

– Bom dia, senhores! Os senhores podem chamar-me de “Doutor” Franklim. Eu espero que os senhores entendam que são pagos para me trazerem soluções... Como “time is Money” eu gosto de objetividades e, talvez por isto, não suporto explicações. Em suma, comigo é “sim ou não”. Os senhores têm alguma dúvida?

Diante da fera recém chegada ninguém teve dúvidas, mas nos bastidores da empresa as frases mais ouvidas eram: “Doutor!... doutor uma pô!” A outra frase era: “O Valdir vai se dar mal com este doutorzinho...”

Passados uns dois meses, durante uma reunião o diretor perguntou a Valdir:

– Senhor Valdir, qual é o valor percentual de nosso ponto de equilíbrio atual?

Valdir puxou a sua calculadora científica, abriu uma pasta cheia de tabelas e começou a falar:

– Senhor Franklim, antes, eu necessito dar as devidas explicações sobre...

Mas, antes que Valdir prosseguisse, o diretor o interrompeu:

– Pode parar por aí!... Eu quero saber apenas o valor percentual e nada mais...

Valdir deu a resposta, retirou-se arretado da vida e desabafou com o gerente de vendas:

– Este doutorzinho de “m” tá pensando o quê? Ditadura, já era!...

O Gerente de vendas então o aconselhou:

– Valdir, amigo velho... Chame o homem de doutor que ele gosta e deixa de ser prolixo. Você não o ouviu dizer que com ele é sim ou não? E então?...

– Que sim ou não coisa nenhuma, cara! Este doutorzinho tem de nos escutar... Ora pombas!... – retrucou Valdir.

– Bem... Quem sabe é você... – alertou o gerente de vendas.

Tempos depois, o diretor chamou Valdir a sua sala e indagou:

– Senhor Valdir, o balancete já foi concluído?

– Bem senhor Franklim, com respeito a este assunto, nós tivemos uns probleminhas que merecem explicações:

Mal Valdir colocou os dois pontos na frase e o diretor o atropelou com rispidez:

– Senhor Valdir!!... Na próxima vez que eu lhe fizer uma pergunta, e o senhor vier com explicações, o senhor vai perder o seu empreguinho! Estamos entendidos?

Valdir retirou-se “p” da vida. Alguns de seus colegas ao saberem da ameaça sofrida vieram ao seu encontro e lhe disseram:

– Valdir... Valdir... Desde a chegada do “garotão” aqui na empresa foi criada certa animosidade entre vocês, ou seja, o garotão deixou claro que gostaria de ser chamado de doutor, porém, você o chama de senhor. Outra coisa, ele detesta explicações, mas você continua com sua prolixidade. Aí, já viu... Você vai acabar se ferrando com o doutorzinho.

Mas, Valdir era competente, já tinha 18 anos de empresa, era turrão e, na oportunidade, respondeu aos preocupados colegas:

– Turma, eu aprendi que, quem tiver medo de defecar, não deve comer. Portanto, se numa próxima reunião o doutorzinho vier com aquele papo de sim ou não, ele vai se lascar comigo. Até porque eu já descobri um babado dele que estou guardando para o momento certo...

– Valdir!... Valdir!...– alertaram os colegas.

Veio então a reunião de final de ano. Com os subordinados em redor da mesa, e o Doutor Franklin todo posudo na cabeceira da mesma, teve início a reunião, na qual, ele mais uma vez deixou bem claro que iria ouvir respostas objetivas e ponto final. Era tudo que Valdir queria ouvir. Assim e para a surpresa de todos, Valdir pediu a palavra:

– Senhor Franklim, eu posso lhe fazer uma pergunta?

– Pois não, senhor Valdir.

– Mas tem uma condição, senhor Franklim: Como o senhor é objetivo a sua resposta tem de ser sim ou não. Certo?

– Perfeitamente. Pode perguntar.

– Senhor Franklin, o senhor “ainda” é veado?

Os colegas presentes na reunião se estarreceram e o diretor enfurecido, gritou:

– Repita se você for homem!!

E Valdir, pausadamente repetiu:

– Senhor Fran-klim, o senhor ainda é ve-a-do?

Resumo: a reunião não terminou; Valdir foi demitido, levando uma boa nota e o doutorzinho retornou para São Paulo de onde não devia ter saído.

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