sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Coluna do Magno


E o velhinho era eu...

A.    Magno

Como a reunião se prolongou até a noite, resolvi viajar para Recife no dia seguinte. Assim sendo, procurei um hotel para pernoitar.
Dormi tranqüilo e por volta das 6h30 eu já me encontrava no refeitório para tomar o café da manhã. Apenas por uma questão de hábito, sempre que me sento em algum lugar desconhecido, prefiro dar as costas para a parede e ter uma melhor visão de quem entra e de quem sai do local.
Assim, depois de encher a minha bandeja com tudo que tinha direito, sentei-me no lugar escolhido e calmamente, passei a saborear “mon café matin”.
No entra e sai de pessoas, sentou-se um casal, cuja mulher aparentava uns 60 anos de idade e o homem uns 85 anos. De frente para os dois percebi que vez por outra, discretamente, o homem falava alguma coisa com a mulher que não a deixava muito à vontade. Mais adiante, percebi que o ti-ti-ti deles tinha alguma coisa a ver com a minha pessoa. Mas, o que fazer? Até então, nada... Como o casal terminou o café primeiro do que eu e se quisesse sair do refeitório teria de passar pela minha mesa, resolvi pagar para ver os acontecimentos.
Um pouco mais, os dois se levantaram e vieram em minha direção. Pararam e o homem falou:
– Com licença de atrapalhar o seu café.
Mesmo com a voz um pouco embolada como se tivesse sofrido AVC e fisionomia abatida, ele não me era estranho. Percebendo que ele queria perguntar-me algo, respondi:
– Pois não, amigo. Fica à vontade.
Aí, o homem continuou:
– Eu não sei se estou fazendo confusão, mas, eu já lhe vi em algum lugar.
– Bem, é possível... Afinal, o mundo é pequeno...
O homem ficou pensando e disse:
– Depois que eu sofri um AVC, eu fiquei meio confuso, mas mesmo assim, que mal lhe pergunto, você é daqui da terrinha ou é do “Ricife”?
– Eu resido em Recife a um bom tempo.
– Ah!... Então é de lá que eu lhe conheço! Pois eu também morei por lá durante uns três anos.
Como eu não registro bem fisionomias, falei:
– Olha... Você também não me é de todo desconhecido.
Mas aí, resolvi perguntar:
– Em que bairro você morou em Recife?
– Bem, eu morei no Derby e no Cordeiro.
– Então, deve ser do Cordeiro que você me conhece, pois eu moro lá – respondi. – Mas, em que parte do bairro você morou?
– Eu morei no final da antiga rua da lama, próximo da pizzaria – respondeu.
– Eu também...
Aí, o homem que eu ainda não sabia quem era, falou:
– Ah!... Então você deve ter conhecido um grande amigo que eu tinha lá.
– Como é o nome dele?– perguntei.
– Olha, o nome eu não me lembro. Mas me recordo que era um “velhinho bem magrinho com cara de doentinho”, que vez por outra, andava pelas calçadas puxando um cachorrinho. E era nessas ocasiões que a gente jogava umas conversas fora.
Ao ouvir dizer, um velhinho bem magrinho, puxando um cachorrinho, eu falei:
– Ah, essa pessoa morreu ano passado aos 97 anos de idade!Todos o conheciam por Zé da Lata.
Aí, o homem pensou e contestou:
– Não!... Esse meu amigo, “se” ainda estiver vivo, deve ter uns 80 anos de idade ou no máximo uns 82, porque eu era um pouco mais velho do que ele.
Diante da resposta do homem, falei:
– Olha, eu não sei quem é esse velhinho magrinho que você se refere, mas posso tentar saber...
Como eu precisava viajar, despedi-me e perguntei:
– Mas, qual é o seu nome?
– Eu me chamo Osvaldo Catarina.
Dias depois, fui à casa de G. Papudinho – antigo morador da rua – e perguntei se ele conhecia tal de Osvaldo Catarina que havia morado perto da Pizzaria. Papudinho deu uma “gaitada” e falou:
– Homi! Tá lembrado, não?! E esse cabra não é aquele mentiroso que a turma chamava de “Coronel mentirinha”!
– Huuuumm!... Tô lembrado!...
Foi então que eu cheguei à conclusão que o tal velhinho magrinho com cara de doentinho, que o Osvaldo pensava já ter morrido, graças a Deus era “eu”.

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