quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Coluna do A. Magno

O PRECONCEITO E A MODÉSTIA
A. Magno
O maior benefício que se pode prestar a uma pessoa é ajudá-la a pensar criticamente sobre todas as coisas.
Valter da Rosa Borges

Em fevereiro de 2007, Monteiro me convidou para fazermos uma auditoria técnica numa fábrica pernambucana.
Em nosso terceiro dia de trabalho, durante o almoço o Diretor Industrial nos indagou:
– E aí, como vão os trabalhos?
Monteiro que apesar de não gostar de conversar durante as refeições, nesse dia abriu um precedente e falou:
– Nós ainda estamos na fase dos levantamentos.
Momentos depois, disse o Diretor:
– Eu não entendo, por quais razões gastam tanto com energia elétrica nesta fábrica, hein seu Monteiro?
– Tenha calma, porque amanhã analisaremos as faturas de energia elétrica, certo?– disse Monteiro.
Tão logo o Diretor se retirou Monteiro que ainda dava as últimas garfadas, olhou-me e comentou:
– Esse cabra está precisando aprender aquele pensamentozinho Navajo que diz: “Quando estiver andando, ande. Quando estiver comendo, coma.”
Após ouvi-lo, pensei: “Monteiro, Monteiro!... Deixa de manias!”
No dia seguinte, quando terminei de analisar dose faturas de energia, não me contive e exclamei:
– Nossa!...
Monteiro que se encontrava na mesma sala, perguntou:
– Que bicho lhe mordeu?
Quando mostrei a quantidade de multas motivadas por picos de demanda, excesso de energia reativa e multas por atrasos de pagamentos, ele imediatamente me perguntou pelo fator de potência. Respondi que estava em 0,84- muito baixo. Monteiro pediu a presença do Diretor à nossa sala, mostrou-lhe os pepinos, o qual nos perguntou:
– E como fazer para se resolver essa bexiga lixa?
Monteiro calmamente, respondeu:
– Bem, as multas por atrasos, são com vocês. Os picos de demanda, o Magno resolverá. Quanto à correção do fator de potência, o Magno indicará um Engo. Elétrico para resolver.
Dois dias depois, o Engo. Indicado – filho de um conhecido – esteve na fábrica, corrigiu o fator de potência para 0,92, botou um dinheirinho extra no pé do cipa (no bolso) e saiu todo contentinho.
Como eu adoro aprender, após a conclusão de nossos trabalhos, liguei para o Alcides – pai do Engo. – e falei:
– Ô Alcides peça a seu filho se ele pode me conseguir alguma literatura sobre cálculo de correção do fator de potência e, se ele achar necessário, dar-me umas explicações, certo?
– Tá certo – disse.
Mas, como já se passavam uns três meses e nada de resposta, liguei para o Alcides:
– E ai Alcides, falou com o seu filho?
Alcides todo sem graça ao telefone, falou:
– Olha Magno, esses garotos de hoje são lasca... Sabe o que ele me respondeu?
– Não...
– Ele me respondeu: “Papai, papai... Papagaio velho não aprende mais a falar!...”
Diante da postura preconceituosa, evitando mandar alguém para aquele lugar, achei melhor apenas responder que para se aprender não existe idade.
De volta para Bom Jardim, após conversar com alguns amigos, eu soube que Péricles Pereira da Rosa ( Perquizinho) é Engenheiro Elétrico. Aí, numa das reuniões do I. H. G. B. J aproximei-me dele, contei a história do “papagaio velho” e pedi-lhe ajuda.
Atento a minha história, o “modesto” Professor e Engenheiro Périscleszinho, prontamente falou:
– Mas, que babaca!... – E prosseguiu – Ô tuninho, no próximo sábado, você pode comparecer à minha casa por volta das 15 horas?
– Lá estarei...
– Pois bem– reforçou Pericleszinho–, então no sábado, nós veremos se papagaio velho, aprende ou não aprende a falar. Certo?
E assim foi feito, em meio a boa vontade, excelente didática, cafezinho quente feito na hora e um gostoso tapinha nas costas acompanhado da frase:
– Pois é, papagaio velho, você acabou de aprender mais uma nova linguagem!...

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