sexta-feira, 6 de agosto de 2010

O Triste Fim de Um Orelhão

Cesar Carvalho (JORNAL MAIS)

Era uma morte já anunciada. E só poderia terminar assim mesmo. Além de sofrer com o vandalismo daqueles que vivem destruindo o patrimônio público, apenas para se divertir, os orelhões ainda sofrem com o descaso do monopólio da telefonia fixa responsável por lei, pelo seu funcionamento e manutenção. E assim, com muito custo, eles vão sobrevivendo aos maltratos das intempéries, aos ataques dos vândalos, aos efeitos do abandono. Velhos, sujos, surdos, mudos, pixados, quebrados, não cumprem a função para a qual foram destinados: fazer e receber ligações. Quem depende de um deles no meio da noite já sabe o martírio que vai passar: o de andar centenas de metros e até quilômetros para encontrar um que esteja funcionando. E haja paciência! Pois geralmente a maioria dos orelhões está sem os aparelhos. Ou não aceitam os próprios cartões da operadora, exibindo a mensagem “cartão recusado”. Ou pior ainda: devoram vorazmente nossos créditos sem que consigamos completar a ligação.

Tudo isso tem sido motivos de reclamações dos usuários, fazendo da Oi Telemar, durante muitos anos, a grande campeã de queixas nos Procons. Muitos desses usuários já desistiram de ligar dos orelhões e preferiram comprar aparelhos celulares onde a concorrência acirrada nos brinda com uma cascata de bônus e promoções. Do celular, dentro do conforto de sua casa, pode-se ligar para o mundo todo, pagando-se alguns centavos por minuto. Então, orelhão para quê? Parece que a operadora de telefonia pública deseja mesmo o seu fim. Descobriu nos celulares o rico filão para engordar suas receitas. O Brasil é hoje um dos maiores mercados do mundo em telefonia móvel.

O resultado disso é que, como tantas coisas úteis no passado, como a máquina de escrever, a caneta tinteiro, a fita cassete, o disquete de computador, o disco de vinil e a enceradeira, o telefone público também está se tornando um objeto inútil, obsoleto, uma peça de museu. Os poucos que restam estão condenados a terminar assim, como esse, localizado na Rua Graciano Cariello, no bairro Bem-Te-Vi Amarelo. Entregue ao abandono de sua própria sorte, teve sua base de ferro enferrujada e apodrecida. Não resistiu a tamanho descaso e desabou ao solo. E ficou lá assim, caído, quebrado. E quem se importa?...

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