quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Dr. Péricles, o empreendedor! (1ª parte)

(*) Erthal Rocha

Acabo de receber “Estórias Coladas”, livro de cunho histórico e de genealogia de Marta de Faro Novis. Sempre me interessei por obras desse gênero. Conheci a autora como eficiente defensora pública. Descobri agora nova faceta de seu talento, a de historiadora. Relata a saga de diversas famílias e seus empreendimentos que contribuíram para alavancar o progresso do país. Marta revela-se primorosa memorialista. Cita fatos e acontecimentos marcantes não só de Bom Jardim, do Estado e alguns do país. São fatos notáveis, ao lado de outros menos agradáveis, contados em linguagem direta, sem rodeio e escorreita.

O prefácio do médico Sérgio Novis, marido da autora, é uma página de amor especial à sua companheira-historiadora e às famílias retratadas.

Entre as famílias biografadas, desejo focalizar apenas duas: a Corrêa da Rocha, centradas no Coronel Luiz Corrêa da Rocha e seu filho Péricles Corrêa da Rocha (foto) e a Darrigue de Faro, centrada em Frederico Darrigue de Faro Filho e sua mãe Zita Darrigue de Faro, pai e avó da autora.

Marta faz uma análise da personalidade marcante, porém centralizadora e autoritária do Coronel Luiz Corrêa e do espírito empreendedor de Péricles Corrêa da Rocha. Bom Jardim muito lhes deve pelo o progresso que lhe trouxe. Entre outros empreendimentos, está a instalação de energia elétrica no município, em l917, até sua transferência para o Estado em l971, após mais de meio século, servindo à população, quando se esgotara sua capacidade em relação à demanda. Ao Dr. Péricles se deve outro notável empreendimento para Bom Jardim, a instalação, em l950, da Fábrica Busi, no Bairro de São Miguel. Foi iniciada com 500 trabalhadores, tendo sido a nossa primeira indústria de vulto. Na época, Bom Jardim estava carente de empregos, empobrecido pela crise do café. A Busi exportava seus produtos, principalmente os famosos caramelos para diversos países, gerando tributos para o Município e para o Estado e divisas para o país, em época de crise após a 2ª Guerra Mundial, desentendendo-se com o sócio, decidiu vender a fábrica para Dulcora, que a transferiu de Bom Jardim.

Em 1912, Dr. Péricles, com inegável pioneirismo, trouxe o primeiro automóvel para o interior do Estado, circulando apenas na sede de Bom Jardim, já que não havia estradas adequadas para transporte rodoviário. Ao ver o carro andando, algumas pessoas achavam que era “assombração”, assinala Marta em sua obra.

Em 1922, Luiz Corrêa, a instância de Dr. Péricles (sempre um apaixonado por automobilismo) fundou a primeira agência de automóveis em Bom Jardim, a FORD.

Péricles Corrêa da Rocha foi o primeiro Prefeito eleito de Bom Jardim, em l922, com operosa administração. Voltou a ocupar o cargo por eleição, sendo destituído do poder pela Revolução de 1930. Teve assento na Assembléia Legislativa, com atuação destacada, por dois mandatos. Foi um bom-jardinense que amou profundamente sua terra natal, tornando-se seu benfeitor. Sempre pronto a colaborar com os poderes públicos e ajudar obras de benemerência social. Homem de marcante personalidade e empreendedor, porém determinado e um tanto autoritário, atributo herdado de seu pai, Dr. Péricles granjeou merecido conceito em todo o Estado do Rio, onde era grande o seu círculo de relações.

Releva notar, ainda, a construção do Engenho Central de Laranjeiras, em Itaocara, município do qual também foi prefeito. Era uma fazenda modelo para o país na produção de açúcar e de álcool, com organização modelar, dotada de estrada de ferro particular, com locomotiva própria e 50 gôndolas, com 38 quilômetros de extensão, para transporte da cana cortada. Chegou a ter 1.200 trabalhadores e a população de 5.000 de seus familiares, morando em 700 casas confortáveis, construídas em volta do Engenho. Era uma pequena cidade, com água encanada, energia elétrica, cinema e clube para todos. Tudo muito diferente das usinas de Pernambuco, nas quais os colonos viviam maltrapilhos, em palhoças, sem mínimas condições de conforto. Após o afastamento de Dr. Péricles, vendidas as cotas de produção para São Paulo, o Engenho foi desativado. Atualmente, é uma imensa fazenda de gado, dirigida por seu sobrinho Álvaro Luiz Corrêa Graça, com 70 empregados. A saída intempestiva de Dr. Péricles de seus empreendimentos, conforme acentua Marta, em “Estórias Coladas”, provocava sérios problemas administrativos, que eram resolvidos por seu pai Frederico Darrigue de Faro Filho, com ajuda de advogados. Ele possuía calma e frieza necessárias para encerrar negócios sem grandes prejuízos. Assim foi no Engenho Central, na Busi e Companhia Agrícola Luiz Corrêa (Continuarei na próxima edição).

(*) Célio ERTHAL ROCHA – erthalrocha@terra.com.br- é jornalista, advogado, membro do IHG-BJ e articulista do Jornal MAIS BJ+NF.

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