segunda-feira, 27 de junho de 2011

Coluna do Magno

HOMEM É HOMEM... CACHORRO É CACHORRO

A. Magno

Tamanha ainda é a corrupção no Brasil que resolvi contar a história do Pepe.
No final dos anos noventa, Monteiro e eu tomávamos um café num dos shoppings recifense quando chegaram dois senhores. Monteiro disfarçou e perguntou-me:
– Sabe quem é esse cabra de terno branco?
– Não faço a menor idéia.
– Esse cabra quando foi político, dava nó até em pingo de chuva. Um corrupto de primeira... – cochichou.
Aproveitando o assunto, falei para Monteiro que eu tinha muita vontade de conhecer pessoalmente um “corrupto” só para sentir o que ele, a mulher e filhos pensam. Monteiro achou estranho, mas batendo-me no ombro, disse:
– Que vontade esquisita!
Depois de um bom tempo, Monteiro me convidou para participar de um trabalho num grande escritório de projetos, no qual, nós faríamos a parte técnica e econômica de um projeto e o escritório faria o acompanhamento junto ao Banco.
O projeto já estava sendo analisado pelo Banco, quando Monteiro comentou com Pepe (dono do escritório) sobre sua preocupação com a aprovação do mesmo devido certa exigência bancária. Pepe botou a mão no ombro de Monteiro e falou:
– Monteiro... “Todo homem tem o seu preço”! Qualquer empecilho, eu sei como resolver...
– Alto lá Pepe, todo homem, não!...
– Todo homem, Monteiro... Até hoje, todos que me criaram dificuldades, foram corrompidos. Mas, deixa isso pra lá...
Quando saímos para almoçar, Monteiro comentou:
– Tá vendo? Você não queria conhecer pessoalmente um corrupto? Pois bem, acabou de conhecer...
– Mas esse aí, pelo visto é um corruptor.
– Magno... Todo corruptor, também é um corrupto. Creia, eu já me arrependi de ter aceitado fazer esse projeto. Mas... Agora é tarde.
Numa bela manhã, aguardávamos Pepe para uma reunião quando o mesmo chegou “mancando e com o braço na tipóia”.
Leo, advogado do escritório e, segundo as más línguas um tremendo puxa saco (babão no Nordeste), imediatamente, perguntou com falso ar de preocupado:
– Bateu com o carrão chefia?
Porém, antes que outros fizessem a mesma pergunta, Pepe contou a seguinte história:
– Bem turma, como alguns de vocês sabem, eu tenho uma insônia arretada e, sempre que isso ocorre, eu fico na varanda de meu apartamento pensando na morte da bezerra até o sono chegar. Mas ontem, enquanto o sono não me vinha avistei um mendigo em sono profundo dormindo sob a marquise do prédio vizinho. Contemplando aquela cena com certa inveja, imaginei: “É... A vida é engraçada!... Eu tenho de tudo e não consigo dormir. E, no entanto, o cabra lá em baixo não tem nada, mas dorme profundamente na maior tranqüilidade.” Aí, resolvi descer para conversar com o mendigo e tentar entender como ele conseguia dormir naquela situação. Mas, ao aproximar-me, um “vira latas” preto de porte médio que dormia ao lado dele, logo se levantou, “rosnou” para mim, colocando-se em posição de ataque. Chamei-o carinhosamente, mas não houve acordo, o amolestado continuava rosnando e o mendigo roncando. Aí, pensei: “Se todo homem tem o seu preço, os cachorros também devem ter o seu...” Voltei ao meu apartamento, apanhei um prato com bolinhos de carne e fui até o mendigo. “Eu quero ver se esse f. da puta agora vai ou não permitir que eu me aproxime do mendigo.”– pensei. Quando cheguei a uns 3 metros de distância, joguei um bolinho de carne pro safado do cão. Como ele comeu, dei um passo à frente e joguei outro. Certo de que o rabugento do cão já tinha sido “corrompido”, dei mais um passo à frente e me lasquei todo. O filho da puta me pulou em cima, causando todo esse estrago que vocês estão vendo.
Monteiro dando um leve sorriso acrescentou:
– Pois é Pepe, não é por acaso que e o cão é o melhor amigo do homem, concorda?
E Pepe retrucou:
- Ainda é o melhor amigo porque não conhece “dinheiro’.
Dias depois, ao encerramos o nosso trabalho no dito escritório, Monteiro perguntou-me:
– E aí?...
– E aí, o que?
– Ora bolas! Você não tinha vontade de conhecer pessoalmente um corrupto? E então, qual foi a lição tirada?
– Bem, eu entendi que todo corrupto também é um corruptor e percebi que tanto a mulher e os filhos de um ou do outro, conscientemente, desfrutam das benesses adquiridas ilicitamente. Portanto, se eu fosse Deus, os retiraria de uma só vez do convívio terreno. Que tal?
–É... É uma pena que só lhe falta o “se”. – Concluiu Monteiro.

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