sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Coluna do Magno

COINCIDÊNCIA, FALTA DE MANUTENÇÃO, ACIDENTE DE PERCURSO OU...?

A. Magno

Quando cheguei à Praça 15 (Rio de Janeiro), estranhei o vazio, mas aguardei por alguns instantes. Como o quadro continuava o mesmo, perguntei a um senhor que passava o que estava acontecendo. E o cara, com voz de flamenguista, respondeu:

– Meu irmããão... Tá tudo em greeeve...

Todavia, depois de uma meia hora surgiu um taxi, cujo motorista era pernambucano e quando falei que precisava chegar à Rodoviária para embarcar para Recife, ele só contou até um e meio e encheu a boca:

– Entra aí conterrâneo, que a gente já chega lá...

Quando cheguei, o ônibus já se encontrava na plataforma de embarque com o motor ligado pronto para partir. Ao entrar para acomodar-me, um padre e duas freiras, chamaram-me a atenção. Sentei-me e pensei: “Bem, se depender de orações, chegaremos sãos e salvos.”

Mas, enquanto discretamente os religiosos oravam, uma família de paraibanos cheia de malas e pacotes, quatro filhos e, ainda por cima a mulher grávida, despachava a mudança. Porém, ao adentrar no ônibus e deparar com os três religiosos, o marido exclamou em voz alta:

– Viiiiiiixi Maria, mulé!!!

– Que foi que tu visse pra tanto assombro, homi?

– Óia ali mulé!! Tá vendo, não?!...

- Viiiiiiixi!!! Zé, vamo simbora trocá de ônibus porque viajá cum padre e frera dá um azá da gota serena!

– Óxente, é pra já!!

O motorista tentou convencê-los, mas não houve acordo. Nós que presenciamos a dantesca cena, ficamos constrangidos, porém, os religiosos se mantiveram na deles com toda tranqüilidade.

Finalmente os paraibas desceram, o ônibus deu partida rumo a Recife e, para variar os comentários eram os mais diversos possíveis, tais como: “Quanta ignorância!” Ou “Óxente! Nesse mundo tem mais doido do que se pensa...!” Ou ainda “É... Sei não... Pior se os paraíbas estiverem certos...” Por outro lado, aparentemente os religiosos continuavam tranqüilos em seus assentos, apesar da fuleragem dos paraibas.

Por volta das 19h chegamos a Governador Valadares para o jantar. Assim que terminamos, o motorista nos avisou que o ônibus teria de sofrer uma revisão na bomba de óleo, cujo reparo seria demorado.

Próximo das 23h, fomos avisados que a dita bomba teria de ser trocada e, que tal coisa só poderia ser feita no dia seguinte. Foi quando o paraense que viajava a meu lado comentou:

– Que sorte dos paraibas, hein!

– É mesmo...

No dia seguinte, após 12 horas parados em G. Valadares, caímos na estrada e chegamos a Teófilo Otoni. Mal tomamos um café e fomos informados que teriam de trocar o magote da bomba de óleo. Aí, na ausência dos religiosos, alguns mais exaltados já comentavam:

– Rapaz... Os paraibas estavam certos...

Outros diziam:

– Pô... Se for verdade mesmo que viajar com padre e freiras da azar, nós estamos “f”... Pois nem na metade da viagem ainda não chegamos.

O paraense, mais uma vez, abordou-me:

– Companheiro, eu nunca acreditei em superstições, mas... Desta feita eu já estou ficando meio balançado...

– Que nada! Estas ocorrências são por falta de manutenção – respondi.

Pois bem, depois de perdemos mais 4 horas em Teófilo Otoni, continuamos a complicada viagem. Quando nos aproximávamos da rodoviária de Vitória da Conquista, ao cruzarmos com uma caçamba, uma pedra vinda não sei de onde espatifou os pára-brisas do nosso ônibus, obrigando o motorista freá-lo bruscamente, dando-nos um tremendo susto. Aí, a coisa começou a esquentar para cima dos religiosos, pois a maioria dos passageiros passou a olhá-los como os “azarentos”.

O paraense olhou- me com ar irônico e falou:

– Companheiro, e agora foi falta de manutenção também?

Ainda trêmulo devido ao susto, contei até cinco e respondi:

– Bem, dessa feita foi um acidente de percurso.

– Companheiro... Eu já viajei de ônibus, de avião e de trem por todo esse Brasil e nunca vi coisa igual. É muita coincidência... – comentou o paraense.

Trocamos os pára-brisas e estacionamos na rodoviária ao lado de outro ônibus “Rio-Recife” que já se preparava para sair, quando “um de seus passageiros” meteu a cabeça chata para fora da janela e gritou para o nosso motorista:

– Motorista!! Agora que vocês tão chegando aqui?!

– Sim, senhor. Tivemos problemas...

O cabeça chata deu uma gargalhada e mandou ver:

– Eu num faleeei!!... Eu num falei, que padre e frera dá azá!!

Perdemos 3 horas em V. da Conquista e retornamos à estrada. O ambiente no ônibus era o pior possível e, tentar convencer a maioria dos passageiros que a culpa não era dos religiosos seria correr o risco de levar uma peixeirada no bucho. Mas, atravessamos a Bahia, Sergipe e à noite do dia seguinte chegamos à divisa de Alagoas com Pernambuco onde paramos num posto de fiscalização. Já que o toalete do ônibus fedia azedo, pedimos ao motorista para usarmos o banheiro de um bar ao lado do posto fiscal. Porém, como eu e o paraense fomos os últimos a deixar o banheiro, quando retornamos para o ônibus, não o vimos. Assustados, perguntamos a um vendedor de frutas:

– Amigo, você viu para aonde foi o ônibus verde que estava parado aqui no posto fiscal?

O vendedor com cara de espanto, respondeu:

– Óxente!!!... Já se foi há muito tempo!

Deu-me um mal estar tão desagradável que fiquei completamente sem ação. Enquanto isso, o paraense, bufando de raiva, falou:

– Companheiro... Por favor... Não me venha com suas explicações...

Finalmente, nós dois chegamos a Recife através de uma carona. Apanhamos nossas bagagens e ao nos despedirmos ouvi do paraense:

– Companheiro, companheiro... Pensa bem... Eu também não acreditava “nessas coisas’, mas depois dessa viagem...

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