quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Galpão Cultural de BJ, ponto de maravilhosa história do passado e local perfeito para perpetuar alguém especial

“Eu poderia começar dizendo como é bom estar aqui, dizer como essa noite é especial para cada um de nós... enfim... falar dos mais nobres motivos. E com certeza à municipalidade pela grande obra e conquista; aos esforços de toda a Equipe, a feliz ideia que culminou nessa realização pública. Porém, preciso falar um pouco deste lugar.

Pois o meu coração e meu instinto poético me inspiram a tecer palavras de homenagem, agradecimento, história e elevar ao mais súdito e resistente cidadão, o porquê essa noite é tão mágica, lírica e imensamente nostálgica.

Esse prédio, que é hoje o “Galpão Cultural”, foi na sua origem dos séculos passados, a “Usina de Café”, do então Luis Corrêa da Rocha Sobrinho, de cujo cidadão sou sua sobrinha neta, sendo o mesmo irmão do meu avô paterno.

Fui personagem viva e presente de uma infância absurdamente maravilhosa e marcante num tempo em que ainda pulsava a vida nessa fazenda.

Aqui, nesse galpão, eu vinha ainda pequena com minha mãe e minha avó Balbina e enquanto elas catavam café em mesas grandes, onde ficavam sacos de lona nas pontas para receber os grãos limpos, eu muitas vezes misturava todo o café atrapalhando o serviço das senhoras catadeiras.

São muitas histórias, e acredito que aqueles que fizeram parte desse tempo e de outros mais longínquos, sentem a mesma saudade e a mesma sintonia de uma época que faz de Bom Jardim, duas cidades. Uma antes, virgem, pequena, autêntica e a outra, a de hoje, que aos poucos foi se transformando na vítima do progresso.

De algumas décadas para cá, a Prefeitura comprou parte da fazenda, inclusive esse prédio.

Não vou falar minuciosamente da história da fazenda, origem de Bom Jardim, até porque Manoel Erthal, casado com minha tia Julieta Corrêa da Rocha Erthal, o grande e completo jornalista que tivemos nos deixou registro daqueles primórdios e saudosos tempos.

Cabe a mim, como membro do Conselho da Cultura Bom-jardinense, cidadã e poeta, deixar meu relato.

Mas o galpão hoje vai receber um nome! Não um nome apenas; vai receber o sorriso, o abraço, o carinho e o perfume da pessoa mais doce e amorosa que esteve entre nós; vão compor esse espaço com a mesma intensidade que preenchia na sua vida material.

A Margarete de Fátima de Jesus Silva era assim, uma delícia de presença, seu perfume parecia sair da alma, é como se transcendesse um ser especial.

A Marga, menina, que já chamava atenção quando passava para o centro da cidade, na sua pitoresca graciosidade encantava até mesmo as pessoas mais indiferentes. Ela era como uma boneca! Marga cresceu, virou mulher!

A sua trajetória a levou a vida pública. E como profissional amava o que fazia, era educadora e pedagoga por amor, como em tudo que fazia se entregava verdadeiramente.

A sua generosidade não era só uma qualidade, pois fluía nela como o ar que respirava.

Em 2.000, ficou comigo até a madrugada na sala da Secretaria de Educação me ajudando a corrigir cada palavra do meu livro de poesias. Em especial, me deu força nos momentos em que mais precisei. Me acolheu no seu colo de mãe, mesmo sendo mais jovem que eu.

Em 2.006 para 2.007, ou início de 2.007, não me lembro, fomos convidadas para uma feijoada vegetariana, aniversário de uma amiga em comum e lá apreciamos, dança do ventre, sarau, várias atrações e ela degustou cada segundo daquele domingo com alegria, serenidade e, sobretudo muita esperança.

Todos hão que se orgulhar desse ser humano incrível, o legado que Marga deixou para família, amigos, alunos, funcionários, cidadãos em geral, foi antes de tudo o ser guerreiro, mas principalmente, o ser desprendido de coisas oriundas do comum, e do negativo.

Margarete dizia que éramos irmãs nas idéias e nas viagens fora da Terra, éramos incomuns, tínhamos longos papos místicos e nos identificávamos nas nossas loucuras centradas.

Eu poderia contar muitas passagens, falar sobre ela tantas coisas, mas ela era tão intensa, tinha tantas vidas com milhões de pessoas que sei que não é preciso me estender, mas sobre nossa professora, mãe, filha, irmã, esposa, amiga, mulher que foi na sua estada conosco.

Ela não foi! Ela está! Ela é! Porque nós seres vivos e espíritos, somos energia, a matéria volta para Terra, mas a energia fica. Margarete é sorriso, é beleza, é amor, é alegria, é luz, é esperança, é eterna alma nos espaços que ocupou, nos olhos do ontem, no abraço da nossa saudade e aqui no Galpão Cultural, mais que seu nome, sua vida, teremos sua companhia para sempre no palco da cultura. Valeu Marga!

Angélica Rocha, 11/06/2011.

Discurso escrito por filhas, mostra um pouco do grande homem que foi Clirton Rêgo Cabral que dá nome ao Museu do Galpão Cultural

Inicialmente, o que em certa ocasião disse o poeta bom-jardinense Alberto Serrano, seu ex-aluno:

ASTRO

Clirton Rêgo Cabral

“Ao observarmos o sol no firmamento, não lhe pedimos nenhuma explicação. Ele brilha por si mesmo e ante tanta magnitude, rendem-se os homens ao poder da criação. Algumas pessoas são assim; têm o seu brilho próprio, crescem por dentro e por fora, produzem e reproduzem com eficiência. Têm o poder de Midas não para angariar riquezas, mas para gerar trabalho, responsabilidade, decência. Exemplos não são muitos, pois tal capacidade é privilégio de poucos nesse nosso espaço astral. Os bom-jardinenses agradecem poder ver, rever e conviver com o professor Clirton Cabral”.

“A responsabilidade de falar sobre o professor Clirton Rêgo Cabral deixa o coração repleto de alegria e ao mesmo tempo preocupado em encontrar palavras que retratem o seu ser.

Agradeço em nome de minha família ao vereador José Nilton, ex-aluno de meu pai, a indicação do nome de professor Clirton Rêgo Cabral para o Museu, ao Secretário de Cultura e Turismo professor Déscio Luiz Frerie, ex-aluno e colega de trabalho de meu pai pela grande ideia da criação do Galpão Cultural e, ao Prefeito Dr. Paulo Vieira de Barros pela participação ativa na conclusão desta obra, demonstrando sensibilidade cultural.

Foi possível suportar sua perda através da troca de lágrimas entre as nossas e as dos rostos, também molhados, dos bom-jardinenses amigos, olhares e expressões que dividiam a dor da partida. aplausos que ainda hoje ecoam em nossos ouvidos.

Assim escreve a história da humanidade: nascer, crescer e morrer. Mas nesta caminhada, os registros de nossos atos é que ficam. Ele já é eterno a todos nós: alunos, pais, familiares e amigos. Mas, neste Galpão Cultural, ao lado de personalidades também marcantes de Bom Jardim é que se registram as suas ações culturais e educacionais, oferecendo às futuras gerações a oportunidade de conhecê-lo.

Nascido em Alagoas, muito jovem, ingressa na carreira militar, e aos 17 anos pede a seu pai consentimento para defender o Brasil na 2º Guerra Mundial. Após cessar o estado de beligerância, permanece na Marinha do Brasil, casa-se, chega a oficial, aposenta-se escolhe Bom Jardim para morar e se dedicar à educação. Cursa as faculdades de Matemática, Física e Administração Escolar. Este amor à cultura e à educação se deve ao fato de acreditar que a única forma de salvar o seu país da miséria e ignorância, é através da educação e cultura. Afirmava sempre: “não há outro caminho”.

Homem simples, humilde, sábio, patriota, justo, amigo, idealista, um orgulho de pai, professor, diretor, esposo, militar e matemático.

Muito cedo, sua família percebeu que tinha que dividi-lo com o ideal de vida que ele abraçava que era de olhar para o lado e estender a mão, pois o seu lema era: “fazer o bem sem olhar a quem”.

O Galpão Cultural, que já é um referencial para nossa região e nosso país, iniciou, também, suas atividades com uma bela exposição de arte: Expressões do Mestre Lula Trócoli, no Museu Professor Clirton Rêgo Cabral, motivo de honra para a sua família.

O espectro deste Galpão Cultural só pode ser de paz, solidariedade, sabedoria e vitória. Aqui, nos sentimos leves, livres, felizes e porque não, poetas? Aqui reina o encontro, a emoção, a harmonia, as formas, enfim, a arte.

E para finalizar, relembramos algumas lições deste professor que ratificam a sua filosofia de vida: “Trabalho, professor, é meio de vida e não de morte”. ”Se soubesse que o mundo iria acabar daqui a um minuto, no último segundo começaria a pensar”. “Terra onde não vou, feijão dá na raiz”. “É... comeram a vergonha com farinha seca e não se entalaram”. “Alunos estudem, pois esta é a maior riqueza”. “Para se tomar uma atitude justa, deve-se ouvir os dois lado”. “As mães não deveriam morrer jamais”. “Um aluno não deve nunca delatar o outro”. “Alunos, observem o bambuzal altivo, esplendoroso com sua ponta voltada para o chão para lembrarmos da humildade”. “Perto de quem come e longe de quem trabalha”. “Escolas não se fecham; quando se fecha uma escola, certamente, abrir-se-á uma cadeia ou uma penitenciária”. “Em meio de canal não se fundeia”. “Enquanto se descansa, carrega-se pedra”. “Pobre só vai pra frente por topada ou estudando”. “A recompensa do professor está na vitória de seu aluno”. “O jovem pode ter mágoas do seu professor, mas o professor jamais pode ter mágoas de seu jovem aluno”. ”Maus exemplos, não servem de exemplo”. “Sou militar de profissão e professor de coração”. ”Passa para a história quem a história determina”.

Discurso escrito por suas filhas Anita e Áurea Cabral

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