quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Coluna do Magno

O sonho de um coveiro moderno

A. Magno

Já fazia algum tempo que eu não avistava “Biu da Bala”. Apesar da sua irritante surdez, o velho sabe contar um bom “causo”. Pensando que ele estivesse adoentado, perguntei por ele a seu amigo “Cabeça de Queijo”, o qual, respondeu-me que Biu estava bem e que estava precisando muito falar comigo.

Curioso, perguntei:

– Sobre o que o Biu está querendo falar comigo?

– Sei não, carioca... – para os dois, carioca e fluminense é tudo a mesma coisa, ou seja, não adianta tentar explicar as diferenças.

Dias depois eu estava na feira de rua do bairro, quando alguém me bateu nas costas e exclamou:

– Carioca cabra arretado! Tu “aparecesse’ na hora certa!

– Por que Biu?

– Eu tô precisando dum grande favor seu que é dar umas explicações de Português e Matemática para um neto “manzanza” (paradão) e raparigueiro que mora comigo desde pequeno. Como você é um cabra bem letrado, eu sei que não vai me negar isso, certo?

– Façamos o seguinte: Peça ao rapaz para trazer o material e vir conversar comigo.

Passados dois dias bateu a minha porta um molecão de uns 20 anos, cara de preguiçosos, com alguns papeis soltos na mão e disse:

– Seu carioca, “vô” me mandou vir conversar com o senhor.

Dando uma de besta, indaguei:

– Quem é o seu avô?

– Bem, o nome dele é Severino, mas por causa de um tiro que ele levou em São Paulo e a bala ainda continua alojada nas costas dele o povo daqui o chama de Biu da Bala.

– Ah, sei quem é! Mas, em que posso ser útil?

O rapaz então me falou que a Prefeitura local abriu concurso para merendeira, serviços gerais, faxineira e “coveiro”. Ele optou pela vaga de coveiro e, inclusive estava fazendo um cursinho preparatório para brevemente, enfrentar o concurso.

Curioso pela opção do rapaz, perguntei:

– Por que razão você escolheu coveiro?

– Porque a prova é mais fácil.

Diante da resposta, pensei: ”Esse cabra, com a escolaridade que diz ter, poderia pensar em algo melhor, mas... o problema é dele”.

Vendo-o com diversas planilhas nas mãos, pedi para analisá-las e ver por onde começaríamos as devidas explicações.

Após ver algumas questões que poderiam cair na prova, tais como:

Matemática

1- Três rolos de arame farpado têm respectivamente, 168m, 264m e 312m. Deseja-se cortá-los em partes de mesmo comprimento, de forma que cada parte seja a maior possível. Qual será o número de partes obtidas e o comprimento em metros de cada parte? A- 21 e 14 b- 23 e 16 C- 25 e 18 d- 31 e 24.

2- O menor número múltiplo de oito menor que 1000 é: a- 800 b- 88 c- 992 d- 900 e- 998.

3 – O valor da expressão: ( 1+0,2)². (4-1:5) é: a- 2,88 b- 8,64 c- 2,08 d- 8,4 e- 4,80

Português

1- Assinale a alternativa em que a flexão do substantivo composto está errada: a- Os pães - de-ló b- As quintas–feiras c- Os ticos– ticos d- Os arco-iris e- Os guardas-civis

2-Assinale a alternativa em que a crase foi empregada de forma incorreta: a- Voltou à trabalhar hoje b- Saiu às seis horas b- Regressou à casa do colega c- Ficou à vontade c- Voltei à butique com minha filha.

3- Assinale a alternativa que apresenta, respectivamente, hiato ditongo e tritongo; a- Ameixa - países – faísca b-Leite – faixa – quaisquer c- Criaturas – couro – iguais d- Pecuária - cordeiro - água e- N. D. A.

4- Interpretação de texto. Depois de ter dado uma boa olhada nas exigentes planilhas para a “vaga de coveiro”, falei para o rapaz que nada me impediria em ajudá-lo, mas que gostaria de saber se eu poderia fazer-lhe uma pergunta.

Como o rapaz não se opôs, perguntei-lhe:

– O meu amigo toda esta exigência para a função de “coveiro” seria para enterrar nordestinos ou Reis, Rainhas, Príncipes, Duques, Marqueses ou Barões de alguma monarquia européia?

O molecão me olhou com um aparente olhar de peixe morto, mas, respondeu seguro:

– Óxente! Eu só sei que se eu passar no concurso eu vou enterrar cabra macho, cabra frouxo, cabra safado, cabra estribado, ou seja, o que aparecer eu meto a pá de cal pra cima. Mas... Meu sonho mesmo, é enterrar ladrão do dinheiro público. Nesses aí, eu faço questão de jogar a cal sobre o caixão bem devagarzinho e dizer bem baixinho pra ele: “Cabra safado!... Vá roubar na profundeza dos infernos! Seu!...”.

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