segunda-feira, 25 de outubro de 2010

COLUNA DO A. MAGNO

Decepção na primeira entrevista

A.Magno

Eu não sei como a coisa funciona hoje em dia. No meu tempo de Escola Têxtil, a duração do curso era de quatro anos e para concluí-lo o aluno tinha de estagiar numa fábrica durante seis meses e apresentar um relatório à escola, que era avaliado por uma junta de professores. Durante este período, o aluno se mantinha através de uma remuneração paga pela fábrica.

Apesar da época (1964) ser de vacas gordas quanto ao mercado de trabalho, ainda assim, eu não havia conseguido um local para estagiar. Nesta época, o primo Dudu Moraes (Álvaro Luis Correa de Moraes) andava pelo Rio de Janeiro e, num de nossos encontros no famoso 904 da Benjamin Constant na Glória, conversando com ele sobre a minha preocupação referente ao tal estágio, Dudu ao ouvir-me, falou:

– Ô primo, só não tem solução pra morte. Isso aí, se resolve...

Depois de uns 15 dias, Dudu me telefonou, dizendo:

– Ô primo, aquele seu assunto, já está resolvido.

– Qual assunto?

– Pô, primo!... O negócio do seu estágio remunerado!

– Hum!...

– Olha! Vamos acertar tudo direitinho ainda hoje por volta das 16h00min, lá no Amarelinho, certo?

– Tá certo, Dudu!– confirmei todo contentinho.

Próximo da hora marcada no Amarelinho chegaram Dudu e um amigo por nome Rômulo, ao qual, fui imediatamente apresentado. Como o Rômulo já sabia da minha história, dirigiu-se a um orelhão – naquele tempo, nem através da ficção se pensava em celular – enquanto Dudu e eu o aguardávamos. De volta do orelhão, bateu-me no ombro e disse:

– Bicho, eu acabei de acertar o seu estágio com um empresário amigo meu. Portanto, amanhã às 17h, compareça neste endereço aqui de meu cartão, apenas para vocês se conhecerem e acertarem o dia de sua ida para Teresópolis onde fica uma das fábricas do meu amigo, tá certo?

Depois que agradeci ao Rômulo, Dudu perguntou-lhe se o escritório que eu iria ao dia seguinte na Av. Rio Branco era o do “carcamano narigudo”. Rômulo confirmou que era. Aí, Dudu recomendou-me:

– Primo o narigudo tem uma Secretária que é um monumento de mulher e, a sacana sabe que é boa e sabe provocar a gente. Mas... Não entre na dela não, porque ela é caso do patrão e aí, já viu...

- Fique tranqüilo– respondi.

No dia seguinte e na hora marcada, lá estava eu diante das torneadas coxas e das provocantes cruzadas de pernas da tal secretária à espera do empresário para a minha primeira entrevista.

Depois de um bom chá de cadeira, a boazuda levou-me até ao empresário, que sinalizou com a mão para que eu me sentasse enquanto ele – diante de mim – tomava uma jarra de bom suco de laranja com biscoitos recheados, “sem me oferecer”. Sem saber que o pior ainda estava por acontecer, eu o olhava por debaixo dos óculos e com água na boca, pensava: ”Pô!.. Que cara mal educado?”.

Tão logo ele terminou o lanche, limpou a boca e as mãos num lenço, apanhou um papel rascunho, uma bela caneta e perguntou-me com “sotaque bem gutural”:

– Por favorrr, qual é a sua grrraça?

Bastante tenso por me encontrar pela primeira vez diante de um Empresário, respomdi:

– “Antônio Magno Alonso Lopes de Almeida”.

O Empresário fintou-me e disse:

– Por favorrr, queirrra repetir “silaba porrr silaba”.

Mesmo ainda tenso, percebi que enquanto eu ia repetindo sílaba por sílaba, ele ia somando-as nos dedos e, quando terminei, exclamou:

– Puxa vida! Trinta e duas letras! Que nome grrrande! Eu não vou nem anotar parrra não “gastarrr a tinta” de minha caneta!

Ele guardou a caneta, deu uma breve pausa e disse:

– Bem, se o senhorrr quiserrr mesmo estagiarrr comigo, comparrreça na prrroxima segunda feirrra neste enderrreço em Terrresópolis, certo?

Passados uns dois dias o Dudu telefonou-me:

– E aí primo, quando viajará para Teresópolis?

Dei uma risada e, quando mal terminei de contar-lhe a decepção que tive com a miserabilidade do empresário, Dudu soltou os cachorros:

– Pô, primo!... Que carcamano filho da “p”!...

Obs.: Dudu Moraes era o irmão mais velho do empresário Aloisio M. Correa de Moraes

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