quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

DIÁCANO: Como foi a sua indicação para se tornar prefeito de Bom Jardim (1ª parte)

(*) Erthal Rocha

Sempre gostei de política, que no bom sentido, já foi definida como a arte de governar os povos. Atualmente, muitos governantes tentam desmoralizar o conceito, atolados em corrupção, cujo mau exemplo é dado pelos altos escalões (mensalão, dólar na cueca etc). É provável que minha vocação tenha vindo dos antepassados. Meu avô materno Eugênio Erthal, um dos fundadores do município de Bom Jardim em 1893, foi presidente da Câmara Municipal de 1909 a 1915. Na época ainda não existia o cargo de prefeito, criado em 1922, quando foi ocupado também por um parente, Péricles Corrêa da Rocha, sendo assim o primeiro prefeito de nossa terra. Meu primo Edmo Erthal foi Prefeito de Bom Jardim em dois mandatos, com notável atuação. Seu arrojo e espírito progressista dotaram nossa terra, nos idos de 1955, de um cinema moderno em prédio próprio de 700 lugares, com palco para teatro e concerto, existente até hoje. Na época foi considerado o melhor cinema do centro-norte, com projeção excelente e impecável som estereofônico. Nossos conterrâneos Léa da Silveira Dias e Mauro Barreto que, por muitos anos, nele atuaram podem testemunhar o sucesso daquele empreendimento. Outro primo José Luiz Erthal foi deputado estadual em três legislaturas, com profícua atuação, tendo presidido a importante Comissão de Finanças. Foi, ainda diretor da Caixa Econômica e do Banerj, cargos que exerceu com competência, probidade e espírito público. Sua proveitosa vida pública foi interrompida por seu prematuro falecimento em 1960, causado por insidiosa enfermidade. Amaral Peixoto, quando governador do Estado (1950/1954) declarou que tinha profundo respeito pelo então deputado José Luiz Erthal por sua lisura e atuação sempre voltada para o interesse dos fluminenses, apesar de pertencer a um partido de oposição ao seu governo.

Formado em Direito e já exercendo o jornalismo em Niterói, este articulista acompanhava de perto o movimento político bom-jardinense e estadual. Alimentava o desejo de ser candidato a deputado estadual. Nosso candidato natural, José Luiz Erthal já estava afastado das lides políticas, conforme assinalei. Vinha constantemente a Bom Jardim. Intensifiquei minha colaboração ao Prefeito José Guida, então provedor da Santa Casa, na campanha visando obter recursos para a construção do novo hospital. O antigo e acanhando prédio, próximo ao cemitério, havia sido desapropriado pelo Estado, para a passagem da rodovia. O valor pago foi insuficiente para a obra, tão necessária ao município. A população participou em peso da mobilização para a construção, que contou também com o apoio dos quatro únicos médicos de Bom Jardim, na época, João Luiz e Astrogildo Erthal, Fábio Monnerat e Celso Erthal, este recém formado e que se tornaria um ícone da cirurgia, dando inegável projeção ao nosso município na região centro-norte.

Corria o ano de 1957, a política estadual estava agitada. O Governador era Miguel Couto, eleito pelo ex-interventor e ex-governador Amaral Peixoto, rompera com seu patrono. O deputado estadual Roberto Silveira (PTB) que tinha sido secretário de Justiça no governo Amaral Peixoto, desejava ser governador. Tentou obter o seu apoio e de seu poderoso partido, o PSD, mas não conseguiu. Mesmo sem o bafejo de seu antigo chefe e protetor, Roberto Silveira não desistiu. Miguel Couto, já rompido com Amaral, lançou sua candidatura ao Senado. O candidato de Amaral Peixoto ao governo do Estado era Getúlio Moura, de Nova Iguaçu. Roberto conseguiu o apoio de Miguel Couto e da máquina estadual, mas sentiu que não poderia vencer o seu antigo chefe e padrinho político, considerado imbatível. Não teve constrangimento, bateu às portas da UDN, legenda tradicionalmente adversária de seu partido e cujos líderes no âmbito estadual eram Mário Guimarães, Alberto Torres, Saramago Pinheiro e Jorge Loretti, para propor uma aliança política. Estava consciente de que era a única maneira de vencer o pleito. A coligação foi homologada em tumultuada convenção da UDN, na Assembléia Legislativa, em Niterói, a ela comparecendo para impedi-la e execrar seus líderes, com discursos agressivos, os deputados federais Carlos Lacerda e Raymundo Padilha, que não conseguiram demover os correligionários. Nós representávamos os anseios dos fluminenses e eles o interesse dos cariocas. O Rio, na época, ainda era capital da República. Concretizada a coligação, Roberto Silveira (foto acima) foi eleito governador, em 1958, derrotando o velho Comandante, como era chamado por seus correligionários e sua poderosa organização partidária. Miguel Couto foi eleito senador. A vitória da coligação UDN/PTB foi expressiva em todo o Estado e em Bom Jardim, elegendo Diácano Alves Vieira prefeito, cuja eleição será analisada no próximo artigo.

Observação: As legendas daquela época eram: UDN-União Democrática Nacional; PSD-Partido Social Democrático e PTB que conserva a nomenclatura. Esta siglas e as demais existentes foram extintas pelo governo militar em 1966, dando origem a apenas dois partidos: ARENA e MDB. O primeiro deu origem ao PDS para apoiar a situação, cuja existência não foi duradoura e o segundo é o atual PMDB. O bipartidarismo fracassou e deu origem a proliferação das chamadas legendas de aluguel que tanto mal tem feito ao país.

(*) Célio Erthal Rocha é advogado, jornalista, membro do IHG/BJ e articulista do JORNAL MAIS BOM JARDIM.

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