segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

MAIOR CATÁSTROFE CLIMÁTICA DA HISTÓRIA ASSOLA REGIÃO SERRANA DO RIO

CESAR CARVALHO (JORNAL MAIS) - Bom Jardim, Nova Friburgo, Teresópolis, Petrópolis e outros municípios da região serrana do Rio de Janeiro foram seriamente atingidos por chuvas torrenciais que desabaram na noite do dia 11 e madrugada do dia 12 de janeiro, causando uma enchente sem proporções e um desastre ambiental nunca visto antes. Até a manhã do dia 15, quando a chuva já havia amenizado e o volume da água dos rios começava a baixar, 540 mortos já haviam sido contabilizados nos necrotérios, número que poderá aumentar, devido às centenas de desaparecidos que estavam sendo procurados por bombeiros e parentes. As inundações e as quedas de barreiras também deixaram milhares de pessoas desabrigadas e desalojadas. Muitas delas tiveram suas residências total ou parcialmente destruídas, causando a perda de seus bens materiais, como móveis, eletrodomésticos e até mesmo automóveis, que foram soterrados pela lama ou arrastados pela forte correnteza.

A tragédia mobilizou o Corpo de Bombeiros, a Defesa Civil, a Polícia Militar, profissionais da área da Saúde e grupos de voluntários de toda a região, que se envolveram no resgate e no socorro às vítimas dos desabamentos. Por todos os lugares onde a enchente passou e as barreiras caíram, o cenário era de total destruição, como nas grandes catástrofes causadas por terremotos, tsunamis e furacões. A presidente Dilma Rousseff e o governador Sergio Cabral, que sobrevoaram de helicóptero as zonas atingidas e depois caminharam entre os escombros – quando puderam ver de perto a extensão dos estragos e o sofrimento da população – disseram, em entrevista, que o governo federal vai liberar uma verba emergencial para a reconstrução das cidades duramente atingidas. A catástrofe está sendo notícia em todos os canais de televisão e demais veículos de comunicação do Brasil e do exterior, causando grande comoção nacional.

Em Bom Jardim, o grande volume de água que desceu de Nova Friburgo, onde o índice pluviométrico quebrou todos os recordes e fez transbordar o Rio Grande, a forte correnteza derrubou a ponte da RJ-116, isolando os municípios da região Centro-Norte. Além disso, também caíram as pontes do bairro Maravilha, da Barra de Santa Teresa, de Ponte Berçot e as passarelas do Campo Belo e da Varginha, deixando os bairros Bem-Te-Vi, São Miguel e os distritos de Banquete, São José e Barra Alegre isolados do centro da cidade. Já na manhã do dia 12, a água invadiu a parte baixa do Bem-Te-Vi e do Campo Belo, inundando residências e desalojando as famílias. Mas o desastre maior ocorreu no bairro São Miguel, onde o Rio Grande transbordou, invadindo as ruas Eno Feliciano Pinto e João Jacinto de Carvalho. Algumas casas e lojas comerciais que davam fundos para o rio desabaram. A água invadiu também o colégio Viviane Verly Pereira, o Posto de Saúde José Honório Guimarães, o mercado Supremo, entre outros estabelecimentos e casas, causando grande prejuízo material. Felizmente, apesar das grandes proporções do desastre, nenhuma ocorrência de vítima fatal, ou até mesmo de pessoas feridas ou desaparecidas, havia sido registrada pelas autoridades. O aristocrático Bom Jardim Maravilha Clube foi engolido pela água barrenta, que invadiu suas piscinas, quadras esportivas e salões de bailes e eventos, destruindo tudo.

CIDADE PARTIDA – A cheia do rio também levou as duas pistas no quilômetro zero da RJ-146, que davam acesso aos bairros de São Miguel e Alto de São José e aos distritos de São José e Barra Alegre, isolando-os do resto do município. A queda das pontes e passarelas ainda deixou a cidade dividida em três partes isoladas. De um lado, ficaram o centro da cidade e os bairros do Novo Mundo, Campo Belo, Varginha, Maravilha e outros. Do outro lado, os bairros dos Alves, Jardim Boa Esperança, São Miguel, Caxangá e outros ficaram sem contato com o centro e o Bem-Te-Vi, que também ficou ilhado, só tendo acesso a São Miguel por meio de trilhas íngremes e escorregadias no meio da mata. Em Banquete, a ponte principal não caiu, mas teve suas cabeceiras destruídas, interrompendo o acesso ao terceiro distrito. Para minimizar o problema de acesso, as autoridades e voluntários providenciaram uma ponte suspensa com cabos de aço no bairro Maravilha, onde as pessoas podiam atravessar a pé até o centro da cidade. Filas enormes estavam se formando dos dois lados do rio, esperando sua vez de utilizar a passagem. Toda a coordenação da movimentação de pedestres no local está a cargo de integrantes do Corpo de Bombeiros, Polícia Militar e Guarda Municipal.

SERVIÇOS ESSENCIAIS INTERROMPIDOS – Além de ficar sem acesso, o município de Bom Jardim também sofre com a paralisação de serviços públicos essenciais. Em diversos lugares havia falta de energia elétrica e abastecimento de água. A coleta de lixo, telefonia fixa e móvel, internet, bancos, entrega postal e outros serviços básicos ficaram paralisados em todo o município. No Bem-Te-Vi e outros bairros, a eletricidade foi restabelecida pela concessionária Ampla na noite do dia 13 e a internet no dia 17. Os bairros do Alves, São Miguel, Jardim Boa Esperança, assim como as localidades de Banquete, São José e Barra Alegre também tiveram a energia restabelica.

PREFEITURA ATUANDO PARA RESOLVER OS PROBLEMAS – Logo após saber da catástrofe, o prefeito Affonso Monnerat, que passava férias em Cabo Frio, tentava sem sucesso, chegar à prefeitura de Bom Jardim, para comandar os trabalhos de recuperação do município. Depois de verificar a impossibilidade de passar pela RJ-146 e pelos distritos de Manoel Moraes (Trajano de Moraes) e Mury (Nova Friburgo), Affonso resolveu passar a noite em seu sítio, em Barra Alegre, de onde rumou no dia seguinte, 13, para Campos dos Goitacases, conseguindo assim chegar ao centro da cidade e a seu gabinete na prefeitura, onde mantém contato com autoridades, visando a resolver os problemas emergenciais do município. Affonso se juntou ao seu vice, Paulo Barros, para orientar os secretários municipais, assessores e inúmeros voluntários, desde o início da tragédia, empenhados em buscar soluções imediatas para resolver os problemas enfrentados pela população bom-jardinense, que felizmente, foram menores que os ocorridos nos municípios de Nova Friburgo e Teresópolis.

Logo começaram a chegar as equipes de ajuda aos flagelados e grupos de voluntários distribuíam à população água potável e velas. A secretaria municipal de Promoção e Assistência Social montou centro de apoio no Colégio Estadual Ramiro Braga, onde se encontram alguns desabrigados e onde a secretária Regina Bergamo e sua equipe estão de plantão, recolhendo e distribuindo doações de colchonetes, roupas de cama, agasalhos, água potável, gêneros alimentícios, produtos de limpeza, medicamentos, etc. O Posto de Saúde da Família do Bem-Te-Vi também montou um esquema de distribuição de roupas e medicamentos e alguns desabrigados também foram alojados na creche Darcília Vieira Jasmim (Caxangá) e no Colégio Moreira Franco (Novo Mundo).

DESABASTECIMENTO – Além da possível e previsível falta de água potável, motivada pela destruição de parte da tubulação da Companhia Estadual de Água e Esgoto (Cedae), que abastece os locais mais afetados, a população se preparava para falhas no abastecimento de alimentos, água mineral, gás de cozinha, material de limpeza, combustíveis e outros produtos. Com os supermercados alagados ou isolados, os moradores recorreram a mercearias e vendinhas de bairro, com o objetivo de adquirir e estocar esses produtos. Os comerciantes, porém, não estavam preparados para a grande procura e seus estoques de cereais, legumes, verduras, bebidas, biscoitos, leite, etc, logo se esgotaram. Sem mercadorias e sem ter como repor os estoques por falta de transporte, as lojas comerciais fecharam as portas. Grande parte do comércio, das indústrias e dos prestadores de serviços também está com seus estabelecimentos fechados, por falta de energia elétrica.

SEM MEIOS DE TRANSPORTE – As empresas de ônibus que servem o município (1001, Natividade e Brasil) paralisaram a atividade de transporte de passageiros para Nova Friburgo, devido à queda da ponte da RJ-116 e de parte da pista próximo às Furnas do Catete. Alguns coletivos ainda circulam, ligando Bom Jardim a outros municípios, como Cordeiro, Cantagalo e Macuco. Por causa dos acessos interrompidos, a Expresso Farinha também interrompeu as linhas que ligam os bairros e distritos da cidade e muitas empresas estão sofrendo com a falta de funcionários, que não conseguem chegar ao local de trabalho.

A queda das pontes separou famílias inteiras – maridos das esposas, filhos dos pais, etc. Sem notícias de parentes que estão isolados, moradores têm buscado vias alternativas para chegar até “do outro lado da cidade”. Para se ir do centro até o Bem-Te-Vi de carro, por exemplo, é necessário ir até Fazenda do Campo (Duas Barras) e de lá para Riograndina e Conselheiro Paulino (Nova Friburgo), para depois vir até o bairro bom-jardinense e vice-versa. Já os pedestres abriram uma passagem no meio da mata ligando o Bem-Te-Vi à RJ-146 e de lá para São Miguel e o centro da cidade. Os moradores de Banquete buscam nas estradas vicinais que passam pela zona rural, uma alternativa para chegar à sede do município. Já os moradores de São José e Barra Alegre vinham utilizando uma passagem pelo Jardim Ouro Verde (antiga Buracada) e Alto do Bem-Te-Vi, que permitia o tráfego de motos e carros pequenos, passando por dentro de uma plantação. Mas a passagem foi interrompida em virtude do grande lamaçal que se formou. Além disso, o radialista Getúlio Gomes disponibilizou seu veículo, equipado com rádio-amador, para transmitir recados e avisos pela Rádio Alternativa FM, permitindo às pessoas alertar e tranquilizar seus familiares. Além do grande número de pessoas caminhando a pé por trilhas e ruas cheias de lama, as bicicletas e motos também estavam sendo bastante utilizadas como meio de transporte.

AJUDA DE FORA – O governo federal enviou para Nova Friburgo um hospital de campanha da Marinha e cerca de 250 homens da Força Nacional de Segurança, que podiam se deslocar para Bom Jardim, se necessário. A Cruz Vermelha Brasileira, as emissoras de televisão e outros órgãos de ajuda humanitária estão arrecadando doações em todo o Brasil e encaminhando para as vítimas da maior catástrofe climática no Estado do Rio. Cerca de 40 toneladas de alimentos e água mineral foram embarcadas pela Força Aérea Brasileira (FAB) e destinadas aos municípios atingidos. O vice-governador Pezão esteve em Nova Friburgo, onde falou com a imprensa, anunciando o envio de homens em helicópteros para ajudar os flagelados de toda a região. Na manhã do dia 15, era grande a quantidade de helicópteros que sobrevoava a cidade e pousavam nos campos de futebol, trazendo a ajuda tão necessária, que também vinha na carroceria de picapes, de jipes e até de motos.

CORRENTE DE SOLIDARIEDADE – Sensibilizado, o povo brasileiro correspondeu e os caminhões com donativos começaram a subir a serra, trazendo a esperança de uma vida melhor para as vítimas da catástrofe. Correntes de voluntários se revezavam para distribuir os alimentos aos necessitados. Mas, apesar de muitas pessoas dispostas a cooperar, também havia os aproveitadores da desgraça alheia, comerciantes especuladores e inescrupulosos querendo cobrar preços exorbitantes por uma garrafa de água mineral ou um botijão de gás. Por todo lugar também havia ameaça de saque a casas e lojas invadidas pelo rio, fazendo com que a polícia e os próprios moradores precisassem ficar de plantão para vigiar seus pertences.

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