sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Drº Péricles – A crise de energia elétrica (4ª e última parte

(*) Erthal Rocha

A energia elétrica em Bom Jardim, fator decisivo para o seu desenvolvimento, foi inaugurada, em 1917, por feliz iniciativa de Dr.Péricles (formado em Direito, mas com vocação para engenharia). O projeto foi do engenheiro Raymundo Bandeira Vaughan, representando um marco no progresso do Município. Todos queriam imediatamente o benefício, nas suas casas e nos estabelecimentos comerciais, até então iluminadas por lampião. A demanda foi gradativamente aumentando. Para a abertura da Fábrica de Caramelos Busi, em 1950, no bairro de São Miguel, ele fez construir outra usina, localizada no Alto de São José, especialmente para alimentá-la. Com a inesperada venda da Busi para a Dulcora (Dr.Péricles havia se desentendido seriamente com outro diretor), todo o seu potencial foi acrescido à hidroelétrica da sede. Apesar do reforço de energia, a produção ainda não era suficiente para atender à demanda do município. Já falecido seu marido, em 1969, Dona Julica incumbiu a seu sobrinho, o arquiteto Frederico Darrigue de Faro e a mim, como advogado, para providenciar sua encampação pelo Estado. Fato concretizado em 1971, no Governo Raymundo Padilha, sendo prefeito, o advogado Adelque Figueira Rodrigues que muito colaborou para seu êxito. A partir daí, novas pequenas e médias empresas começaram a ser instaladas em Bom Jardim, notadamente no setor avícola, projetando Bom Jardim como um dos maiores criadores de frango do Estado. Com a entrada das poderosas multinacionais no mercado, o setor experimentou acentuado declínio, chegando quase à extinção. Recentemente, Bom Jardim teve notável surto industrial localizado em Barra Alegre, graças ao empenho e a competência do Secretário de Desenvolvimento Tadeu Erthal, apoiado pelo atual Prefeito Afonso Monnerat. Vale lembrar que a crescente industrialização bom-jardinense se deveu a ato da então Governadora Rosinha Garotinho que diminuiu a incidência do ICMS para novas indústrias, em diversos municípios, inclusive Bom Jardim, cuja alíquota ficou em 2,5%, enquanto na vizinha Friburgo é de 18,5%. O prédio da primitiva usina elétrica (foto) localizada na represa da Maravilha, atualmente pertencente ao acervo da Ampla, está em ruínas e abandonado. Segundo me foi informado, o Prefeito Affonso Monnerat, cuja operosidade tem sido por todos reconhecida, está providenciando medidas administrativas e legais, visando o seu tombamento, para ali instalar um centro cultural. É um patrimônio de nossa terra que não pode desaparecer.

D. Julica foi esposa e companheira dedicada de Dr.Péricles em toda a sua existência e com ele solidária em todos os momentos de felicidade e dramáticos que viveram, destacando-se como o mais traumático, o desastre com o trolley de linha férrea, que capotou próximo a Boa Sorte, vitimando fatalmente a mãe e uma irmã de Dr. Péricles. Marta de Faro Novis, em seu livro enfatiza a personalidade, a simplicidade e a cordialidade, que ornavam a figura de sua tia-avó e madrinha, a grande dama que foi Júlia de Sá e Rocha. Ela era prima também de meu pai, o farmacêutico Carlos de Sá Rocha que os bom-jardinenses mais antigos ainda devem se lembrar. No recém criado IHG/BJ (Instituto Histórico e Geográfico de Bom Jardim) Péricles Corrêa da Rocha é patrono da cadeira nº 47, sendo seu ocupante o Secretário Municipal de Turismo Jackson Vogas de Aguiar. O presidente Heraldo Mesquita Souza me informou que ”Estórias Coladas” já se encontra no acervo do Instituto e na Biblioteca Municipal de Bom Jardim para consulta.

Espero reler, outras vezes, “Estórias Coladas” para poder assimilar todas as informações e acontecimentos relatados com maestria, em estilo agradável e escorreito. Louvo, também, a excelente apresentação gráfica e fotográfica, embasando o conteúdo da alentada obra.

A memória bom-jardinense, já preservada, em grande parte pelas obras do escritor e jornalista Manoel Erthal, de saudosa memória, está enriquecida com “Estórias Coladas”, de Marta de Faro Novis. Deve figurar nas bibliotecas públicas como fonte de pesquisa histórica de inegável valor. É um livro para ler, reler e guardar.

(*) Célio Erthal Rocha – e-mail: erthalrocha@terra.com.br - é jornalista, advogado, membro do IHG/BJ e articulista do JORNAL MAIS BOM JARDIM

(Próximo artigo: “Como Diácano foi indicado para Prefeito de Bom Jardim”)

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