sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Coluna do A. Magno

TRADUTOR, NUNCA MAIS!...
A. Magno

Hata era nissei e como não havia estudado francês, convidou-me para atuar como tradutor por dois dias durante visitas que ele e um empresário francês fariam a fábricas têxteis nos Estados de Pernambuco e da Paraíba.
Assim que apanhamos “Claude” no hotel, pelo seu jeitão e pela “porrada” que deu na porta do carrão de Hata, imaginei que os dois não iam se dar bem. E, a coisa se confirmou, quando Hata não se contendo com a porrada na porta exclamou:
– Pô!... Que bicho grosso!!
– Claude naturalmente percebendo a reação de Hata, indagou:
– O que foi que “esse japonês” disse?
Constrangido respondi:
– Nada de importante...
Horas mais tarde, ao visitarmos uma grande fábrica pernambucana, durante a reunião o Diretor– amigo de Hata – gentilmente, nos ofereceu “coca cola”. Hata e eu aceitamos, porém, ao fazer a tradução para Claude, ele com a cara fechada, respondeu:
– Senhor Magno, o senhor não sabe que eu sou um francês?
Eu sabia muito bem que os franceses não são chegados a americanos, porém, diante da grosseira resposta, não querendo que os dois percebessem o que estava acontecendo, perguntei a Claude se ele aceitava água de coco.
– Isso ai, eu aceito – disse com a cara ainda fechada.
Ao terminarmos a reunião, o Diretor, naturalmente percebendo os meus embaraços e a carranca do francês, bateu no ombro de Hata, deu uma leve risadinha e disse:
– É amigo velho, vocês estão bem acompanhados!...
Claude, imediatamente, perguntou:
– 0 que foi que o Diretor falou para o japonês?
Contornando por mais uma vez, respondi:
– Ah!... Ele nos desejou bons negócios.
No dia seguinte, viajando para João Pessoa, Hata apontando para os canaviais, falou:
– Ó Magno pergunte a “esse cabra” se ele conhece uma plantação de cana de açúcar!
Fiz a tradução e estranhamente, Claude gesticulando com as mãos, soltou as penas:
– “Oh, meu querido”! É claaaaro que eu conheço!...
Hata diante dos gestos suspeitos de Claude alisou o bigode e disfarçadamente, comentou:
– Hum!... Sei não... Viu?...
Ainda bem que desta feita Claude nada me perguntou.
De volta da capital paraibana, paramos em Goiana para almoçar no restaurante “Buraco da Gia”, um local de pescados, bastante conhecido mundo afora por seus “guaiamus amestrados”. Hata sugeriu que comêssemos “moqueca de siri” mas após a tradução, o complicado francês disse que era muito pesado e que ele queria comer algo bem “levezinho”. Sugestões e mais sugestões de pratos eram feitas, mas nada... O cara queria sempre algo mais leve. Hata já estava perdendo a paciência nipônica, quando o proprietário do restaurante – conhecido de Hata – veio à nossa mesa e, falou:
– Japonês tudo que tínhamos para oferecer, já foi oferecido. Pergunte ao gringo se ele gostaria de comer uma “sopinha de asinhas de beija-flor”?
Hata e eu demos uma gargalhada, enquanto Claude desconfiado, perguntou:
– Por que é que vocês estão rindo?
Ainda rindo, olhei para Hata e perguntei:
– E ai? Traduzo ou não?
– Pode traduzir, porque esse cabra, além de chato é muito cheio de frescura pro meu gosto. E ai, já viu... Fazer negócios com esse tipo de gente, não dá mesmo!...
Mal conclui a complicada tradução, Claude fechou a cara, deu um tapa na mesa e tentou engrossar o caldo com Hata, que continuava rindo. Aí, intervi diplomaticamente e, quando Claude se acalmou, Hata alisou o bigodão e falou:
– Huuummm!... Magno velho, Magno velho!... Essa manga, além de “rosa” é doida e tirada a brava!... Tô fora!...

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