sexta-feira, 13 de novembro de 2009

A pecuária verde

(*) Jorge Picciani

Em três décadas, a produção de carne bonina no País cresceu 227%, o que corresponde a 57 vezes mais do que a sua área. Tornamo-nos nesse período os maiores exportadores de carne bovina do mundo e esse extraordinário desempenho se explica pela tecnologia. Graças ao melhoramento dos rebanhos, feito através da genética aplicada aos plantéis, um animal que antigamente levava 48 meses para atingir o peso ideal para abate, hoje está pronto na metade desse tempo. Isso melhorou a produtividade e a qualidade da nossa carne e a pecuária hoje representa mais de US$ 5 bilhões na balança comercial brasileira. No entanto, nós, pecuaristas, enfrentamos hoje um grande desafio: conciliar nossa atividade, que precisa aumentar ainda mais sua produtividade, com o respeito ao meio ambiente. A resposta mais uma vez, reside na tecnologia. Só que, desta vez, aplicada ao manejo dos pastos. Trata-se do Sistema de Pastoreio Voisin (pronuncia-se voazan), um método criado no pós-guerra, na França, que é o caminho para a Pecuária Verde.
Na pecuária extensiva, mais comum no País, os animais ficam por longos períodos numa mesma área. Assim, comem o rebrote do capim, enfraquecendo-o e degradam o solo. Recuperar esse pasto é caro. São necessárias máquinas para arar, gradear e semear a terra, fertilizantes, herbicidas, etc. O que faz com que muitos optem por abrirem novas áreas de pastagens, desmatando florestas, atitude inconcebível atualmente e rejeitada pelo mercado consumidor.
No método Voisin, as pastagens são divididas em um grande número de piquetes, limitados por cercas eletrificadas, preferencialmente através de energia solar. O tempo ideal de permanência dos animais nestes piquetes é de 24 horas. Como os animais permanecem por pouco tempo, o crescimento do capim, que começa cerca de 18 horas depois do seu corte, não para nunca. Enquanto o gado está num cercado, o capim cresce nos outros. Numa imagem: enquanto na pecuária tradicional o boi pasta em regime self-service, no Voisin ele come o prato do dia.
Além de permitir que o produtor tenha melhor controle do processo de engorda de seus animais, o Voisin tem ainda efeito direto na captação de grandes quantidades de CO2 da atmosfera, já que é na fase em que as plantas estão em crescimento, por conta das altas taxas de fotossíntese, que há maior absorção de gás carbônico. Mas não é só isso. Na medida em que não exaure a terra, o Voisin acaba com a necessidade de abertura de novas pastagens e diminui o uso de adubos químicos, posto que o próprio estrume e urina do gado servem de adubo natural.
No Brasil, o grande difusor desse sistema é o engenheiro agrônomo Humberto Sório, professor da Universidade de Passo Fundo (RS) que há 40 anos se dedica a implantar e prestar assistência a fazendas que buscam aliar produtividade, baixo custo e sustentabilidade - elementos fundamentais para o futuro da pecuária brasileira. Usando técnicas corretas de manejo, o pecuarista brasileiro não apenas terá a capacidade de atender à demanda provocada pelo aumento do poder de compra do brasileiro e das nações emergentes, como China e Rússia, como também, de vilão da natureza, tornar-se-á aliado do meio ambiente.

Jorge Picciani é deputado estadual e
presidente da Alerj. http://www.jorgepicciani.com.br/

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