sexta-feira, 27 de novembro de 2009

A economia da alegria

Jorge Picciani (*)

O Rio de Janeiro é conhecido mundialmente por ser a capital da alegria, da simpatia, do Carnaval. E isso é bom para o turismo, para os negócios, para o desenvolvimento. O desafio do poder público, no entanto, é transformar este patrimônio intangível em dados, estatísticas e informações que possam balizar políticas públicas que fomentem a inclusão de mais trabalhadores nesta cadeia, gerando renda para a população.
Só para ficar no Carnaval, símbolo maior desta alegria que emanamos e exportamos para o mundo inteiro, e que injeta um bilhão de dólares em nossa economia, começamos a nos dar conta do quanto esta mistura entre o trabalho e as nossas características como povo podem nos trazer em termos de desenvolvimento. Não apenas econômico, mas cultural.
Ao unir ricos e pobres, zona norte e zona sul, morro e asfalto; ao mergulhar nas raízes que formaram nossa noção de povo, cantar em prosa e verso nossa história, o Carnaval se transforma no espaço ideal para que artistas mostrem o seu talento e criatividade e retirem dele o seu sustento. Nesta época, mercados menos visíveis, como o de direitos autorais, geram receitas importantes para quem vive de arte.
E o trabalho permanente daqueles que alimentam esta verdadeira indústria, prestando serviços nos setores de espetáculos, audiovisual, alimentos, hotéis, restaurantes, só para ficar nos mais óbvios? Recentemente, o estudo “A Cadeia Produtiva do Carnaval”, coordenado pelo professor Luiz Carlos Prestes Filho, lançou luzes sobre a enorme quantidade de atividades que são movimentadas por conta “do maior espetáculo da terra”.
Num trabalho multidisciplinar, o livro mostra que nosso Carnaval não se restringe apenas ao Sambódromo e à Zona Sul da Capital, mas se espalha por toda a cidade e o estado, tendo reflexos até em Barra Mansa, cidade da região sul fluminense. Lá, um grupo de bordadeiras produz 39 milhões de peças de bordado por ano exclusivamente para o Carnaval, injetando R$ 53 milhões na economia do estado e respondendo por 4,2% do PIB do município.
Já está na hora de olharmos com mais atenção para as nossas manifestações culturais como vetor de desenvolvimento. Uma imagem muito interessante colocada pelo professor ao lançar o livro é a seguinte: diferentemente de uma indústria, que precisa construir um prédio, comprar máquinas, adquirir insumos, contratar funcionários para só então ter um produto que será vendido, a economia do entretenimento tem uma lógica invertida. Nasce de uma manifestação espontânea, ganha o espaço das ruas, é reconhecida pelo estado, que constrói para ela uma passarela, e durante todo este processo, que gera divisas, o que a torna ativa são as pessoas.
O que proponho é pensarmos juntos de que forma é possível adensar esta cadeia da alegria. A partir de estudos como o que citei temos dados para trabalhar o Carnaval, o livro, a música, o audiovisual. Mas poderíamos levantar informações também sobre o futebol, por exemplo, fonte de tantas alegrias e divisas para o Rio de Janeiro. A partir das informações, podemos mudar a nossa realidade projetando um futuro em que, como diz a letra de Chico Buarque, a única lei é sermos obrigados a ser feliz. Vamos começar?

Jorge Picciani é presidente da Alerj. www.jorgepicciani.com.br

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