domingo, 27 de março de 2011

Prefeito Paulo Barros ‘solta o verbo’ e fala de importantes assuntos envolvendo Bom Jardim

O JORNAL MAIS BOM JARDIM recebeu esta semana para uma entrevista exclusiva o Prefeito de Bom Jardim, Paulo Barros (foto), que assumiu a Prefeitura e responderá pelos dois últimos anos da administração comandada pelo então Prefeito Affonso Monnerat e atual sub-secretário de Reconstrução da Região Serrana, assumindo o cargo a convite do Governador do Estado do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, após a tragédia que abalou os municípios de Bom Jardim, Nova Friburgo, Teresópolis, Petrópolis, Areal, São José do Vale do Rio Preto e Sumidouro. O prefeito Paulo Barros falou à reportagem do JMBJ das expectativas com relação à recuperação da infraestrutura do município, afetada de forma brutal pela enxurrada do dia 12 de janeiro e da condução do governo até o fim de seu mandato.

JMBJ: Prefeito, como foram os primeiros dias após a tragédia assim que conseguiram ter uma noção do tamanho dos estragos?

Paulo Barros: “É difícil até descrever o sentimento naqueles primeiros dias, tamanho o abalo, a preocupação, a tristeza no rosto de todos e a comoção, enfim, diante de um cenário de destruição avassaladora. Por outro lado, vimos um número enorme de pessoas oferecendo ajuda, assumindo a frente de várias ações, pois o próprio município foi enormemente prejudicado com a perda de sua frota, incluindo máquinas e o pior, toda a cidade ilhada. Com toda certeza, foram dias muito ruins e difíceis”.

JMBJ: O apoio e a presença do Estado e do Governo Federal foram efetivos?

Paulo Barros: “A ação do Estado e do Governo Federal foi imediata. Veio uma quantidade satisfatória de doações e com a ajuda de inúmeros voluntários começamos a atender aos mais necessitados muito rapidamente. Alguns contratempos em áreas que ainda não tínhamos acesso, mas que, com ajuda de helicópteros, graças a Deus, conseguimos atender a todos. O trabalho de Affonso Monnerat foi preciso e muito eficaz, fazíamos reuniões diárias e sempre, desde muito cedo até tarde da noite, procurando e viabilizando soluções aos problemas que a todo o momento chegavam. O secretariado estava presente e as cobranças foram grandes, mas a equipe estava unida e fortalecida. Muitas coisas que talvez pudessem ter sido realizadas de forma diferente não foram porque jamais, em tempo algum, alguém poderia imaginar que o nosso município enfrentaria uma situação tão drástica. Porém, mais uma vez Bom Jardim se mostrou forte e embora a catástrofe tenha ocorrido há dois meses, muitas coisas já foram recuperadas e o nosso município está caminhando para se reerguer bem mais rápido do que se imaginava”.

JMBJ: Uma das partes mais afetadas foi a infraestrutura da cidade. Quase todas as pontes caíram, inclusive a principal de acesso à cidade, ocasionando uma situação caótica no trânsito da cidade. Como são tratadas agora essas questões?

Paulo Barros: “Realmente a infraestrutura da cidade ficou caótica. Mas num primeiro momento é necessário que todos compreendam que atender as pessoas era a primeira coisa a fazer, era dar o passo fundamental, atender aos desabrigados, atender às famílias que perderam tudo, recuperar os acessos, limpar todas as áreas afetadas, e isso demandou certo tempo. Paralelo a isso, por óbvio, o governo já vinha trabalhando as questões de solução para a reconstrução das pontes para retomarmos a vida tranqüila da cidade. Mas essas questões não nascem da noite para o dia. Infelizmente, nós temos sentido na pele os efeitos posteriores ao da tragédia e não existem soluções mágicas. Mas o que importa é que todas as obras com relação à construção das pontes já foram iniciadas e dentro de alguns meses, se Deus quiser, nossa cidade voltará ao normal”.

JMBJ: A obra da ponte principal, quem está à frente dela, o Estado ou a Rota-116?

Paulo Barros: “Inicialmente é necessário esclarecer que muitos fatores que não são de responsabilidade do Município atrasaram o início dessa obra, pois, é comum nessa hora algumas pessoas culparem o prefeito por isso. E o projeto dessa obra não é de uma simples ponte. No local será construído um viaduto para solução definitiva dos problemas com o trânsito naquela localidade. Mas esta obra está sendo executada através da parceria do Governo do Estado com a Concessionária Rota 116, na qual o sub-secretário Affonso (Monnerat) solucionou o impasse” com sua eficiente e urgente intervenção no caso”.

JMBJ: Quais são as outras obras em andamento nesse sentido?

Paulo Barros: “A Prefeitura em parceria com o governo do estado construiu mais uma passarela provisória para pedestres ao lado da ponte montada pelo Exército Brasileiro, totalizando a terceira construída pela prefeitura; já a ponte na Barra de Santa Tereza está a todo vapor, com previsão de término para 20 dias. A ponte que ligará os bairros São Miguel e Jardim Ornellas já foi autorizada pelo sub-secretário Affonso Monnerat e as obras iniciarão dentro de poucos dias. Temos também atuado constantemente na zona rural do município, melhorando as estradas vicinais, construindo mais pontes, permitindo que o produtor rural consiga transitar e escoar sua produção”.

JMBJ: Com relação ao trânsito, muitas mudanças foram feitas. Há munícipes que discordam de algumas delas, uns dizem que deve ser assim, outros entendem de forma diferente daqueles, ou seja, percebemos que há muitas opiniões sobre o que efetivamente deve mudar e como mudar.

Paulo Barros: “Nós estamos atentos a isso. Percebemos também as insatisfações para buscarmos soluções. Só que, de início é preciso a compreensão de muitos porque estamos diante de uma situação que nunca poderíamos imaginar que aconteceria. Os problemas estão diante de nós, mas sabemos que, quando os acessos estiverem prontos a situação vai se normalizando. Mas o trânsito já era algo que vinha incomodando a Administração, porque, na atualidade o número de veículos em todos os municípios aumentou de forma absurda. Nós assistimos pela TV quase que diariamente o caos no trânsito no Rio de Janeiro, em São Paulo, os problemas que passam as pessoas quando chove nestas cidades, qualquer que seja a chuva. Mas lidamos também diariamente com um caos no trânsito em Nova Friburgo que não é de hoje. Portanto, temos diante de nós uma situação generalizada. Mas vamos dar as soluções corretas para o nosso Município que ainda tem tempo e condições de fazer diferente”.

JMBJ: A Prefeitura conseguiu por meio de um pedido liminar suspender a cobrança do pedágio. Há perigo de que a Rota-116 reverta essa questão?

Paulo Barros: “Desde o início entendíamos que somente por meio judicial isso seria possível e mais eficaz. Mas é uma ação judicial que demandou também certo tempo para ser preparada devido à documentação mínima que se deveria juntar ao processo para demonstrar ao Juiz a necessidade de impedir a cobrança. Graças a Deus o Município saiu inicialmente vitorioso no entendimento do Juiz e o pedágio somente voltará a ser cobrado depois de iniciada as obras. A Procuradoria Jurídica acredita que é pouco provável a reversão do quadro, mas estamos atentos caso isso venha acontecer”.

JMBJ: Algumas pessoas dizem que o governo deveria continuar como estava e Affonso deveria terminar seu mandato. Como o senhor vê esta questão?

Paulo Barros: “Quantos políticos em nossa cidade tiveram a honra de serem convidados por um governador para assumir uma Secretaria de Estado, com poder de decisão, com reuniões frequentes com o próprio Governador, Secretários, Presidente da República? A posição que Affonso assume hoje é de grande destaque no cenário político do Estado e isso enaltece nossa cidade, envaidece a população que tem um cidadão que foi reconhecido por um governador por sua capacidade, honestidade e, por tal, ocupa o lugar de destaque não só para ele, mas para o próprio Município. E o compromisso que restou de nós é dar prosseguimento a todo o trabalho que já estava projetado até o final do governo. Estamos aqui em grupo, reunidos no sentido de dar continuidade a tudo o que vinha sendo feito e, assim acontecerá até o final do mandato se Deus quiser”.

JMBJ: Existem várias obras que estavam em andamento ou para se iniciar. Como ficaram essas obras?

Paulo Barros: “Gostaria de primeiro citar a obra no Centro da cidade, da Praça ao lado da antiga estação. Muitas pessoas quando viram iniciar a obra começaram a falar que estávamos fazendo praça e esquecendo as pontes. Ora, aquela obra já estava projetada desde 2009 através do convênio 39/2009 e está dentro do pacote de obras feito com recursos do Programa Somando Forças do governo do estado. É um convênio que só permite, no caso, construir o que está projetado no convênio. Não podemos deslocar um dinheiro de convênio para nenhum outro investimento. Por isso, daremos prosseguimento às obras na praça, assim como no cinema e outras já programadas. Evidentemente muitas coisas ficaram paralisadas nos meses de janeiro e fevereiro porque vivemos especificamente para os problemas causados pela tragédia e só agora estamos retomando as atividades da Prefeitura de forma mais efetiva. Portanto, muitos processos licitatórios ficaram sobrestados, muitas secretarias estavam trabalhando somente voltadas para as situações de emergência e isso causou prejuízos em diversos setores da Prefeitura que vem se normalizando agora. Mas todos podem ter a certeza de que todas as obras que haviam sido projetadas por Affonso (Monnerat) serão concluídas porque o nosso governo nada mais é do que a continuidade do trabalho que já vinha sendo feito. Deu certo até aqui. Fomos abalados de forma brutal com as enchentes, mas venceremos novamente”.

JMBJ: Há também prefeito, uma discussão acerca de liberação pela Caixa Econômica Federal do FGTS. Nos fale a respeito desta questão.

Paulo Barros: “É uma inverdade dizer que as pessoas não estejam recebendo. As pessoas que moram nas áreas atingidas e as pessoas que foram atingidas diretamente estão recebendo o FGTS no limite dado pelo Governo Federal. O FGTS é um fundo do trabalhador criado pelo Governo Federal e administrado pela Caixa Econômica. Quem dita às regras é o próprio Governo Federal. O que ocorreu é que inicialmente o Município editou um Decreto prevendo calamidade pública em todo o Município. Veio a Defesa Civil do Estado e modificou o Decreto especificando todas as áreas atingidas e elaborou o documento para o Estado da mesma forma. Portanto, as áreas que não foram colocadas no documento preparado pela Defesa Civil do Estado ficaram de fora. Isso quer dizer que na verdade, àqueles que não foram atingidos pelas enchentes não estão conseguindo a liberação junto a Caixa Econômica Federal. Ocorre que, entendemos nós, há os que foram atingidos de forma direta e, muitos outros atingidos de forma indireta, seja por força das dificuldades que o comércio vem enfrentando, seja por força das dificuldades de acesso à cidade e aos distritos, seja porque um membro de uma mesma família esteja obrigado a ajudar outro que foi atingido. E também, pelo agravamento da situação pela continuidade das chuvas, estas outras áreas passaram a ser atingidas. Já editamos um Decreto fazendo as modificações necessárias e temos algumas exigências a serem cumpridas que dependem do Estado. Nessa semana vamos contatar os órgãos envolvidos e buscar uma solução satisfatória”.

JMBJ: A população tem colaborado com a situação que é atípica?

Paulo Barros: “Nós percebemos a preocupação e a aflição de todos. Não é mesmo fácil ter de enfrentar principalmente os engarrafamentos para se locomover de um lado a outro da cidade. Muitos colaboraram, mas poderia ser maior ainda esta colaboração. Se pararmos para pensar nem sempre é necessário sairmos de casa de carro e isso já ajudaria bastante. O importante é que as soluções para que a cidade volte ao normal já se iniciaram e a população terá a consciência de que enquanto não estiverem concluídas, ainda haverá um pouco de sacrifício de todos. E tudo aquilo que o governo puder melhorar o dia a dia da população será feito, é para isso que estamos trabalhando sem medir esforços”.

JMBJ: Prefeito, esta é a primeira oportunidade e assim de forma mais direta em forma de entrevista, que tivemos também de trazer a população alguns esclarecimentos importantes e deixamos o espaço aberto para suas considerações finais.

Paulo Barros: “Sabemos que temos pela frente grandes dificuldades a serem enfrentadas, mas a população pode ter certeza de que faremos com o mesmo afinco e o mesmo trabalho que estávamos realizando antes. Mesmo com o abalo que sofremos diante da tragédia nós temos a certeza de que venceremos todas as dificuldades impostas ao Município. Às vezes ficamos tristes quando recebemos críticas que não são justas. Como por exemplo, relativo à viagem que fiz com minha família. Ora, já havíamos programado e pago nossa viagem um ano antes da tragédia. Já devia isso a minha família há tempos. Não seria justo ao ser humano e não ao Prefeito, como todo e qualquer ser humano que trabalha deixar de tirar seus dias de descanso. Todos que me conhecem sabem perfeitamente o quanto trabalho. E a cidade continuou administrada da mesma forma, porque temos um grupo coeso e leal, não havia nada a ser feito no período de carnaval, sabemos nós que esse período muito pouco ou quase nada se resolve e foi praticamente o período de carnaval que estive ausente, mas com pessoas sérias e todo secretariado dando continuidade aos trabalhos e com Dr. Jorge Quintes à frente da Prefeitura. Que mal há nisso?”.

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