quinta-feira, 19 de maio de 2011

Coluna do Magno

SE A MODA PEGA...

A. Magno

Castro apesar de ser carioca da gema, mas por ter trabalhado uns vinte e doía anos pelo Nordeste, ai falava óxente com a maior naturalidade. Assim que se aposentou em 1994, não pensou duas vezes e mudou-se para o Rio de Janeiro. Foi morar para as bandas de Guadalupe.

Porém, com o aumento da violência no Rio e por ter sofrido dois assaltos, em novembro de 2006, juntou os cacarecos e retornou ao Recife. Castro voltou cheio de gíria, tais como, chamando urubu de meu louro, ônibus de buzão, guarda de trânsito de samanco e vai por aí.

Num churrasco entre amigos, e tendo a conversa se descambado para problemas de família, Castro comentou:

– Pois lá em casa agora, quem quiser mordomia que trate de aprender a dirigir, pois eu me tornei maior de 65 anos, tenho o direito de viajar de graça em transportes coletivos e, portanto, não vou continuar sendo motorista de mulher e filhos, não. Aonde eu quiser ir, pego o buzão e não to nem aí... To certo?

Barbosa que também participava do churrasco, alertou:

– Castro, o Recife de hoje, não é mais aquele... Hoje em dia, ocorrem em média 54 homicídios por fim de semana no grande Recife. Portanto, pegar qualquer ônibus e sair por aí é pedir pra ser assaltado, visse?

Mas Castro não botando fé no aviso do amigo, respondeu em bom carioquês:

– Bicho, lá no Rio eu já comi peixe com mais espinhas e nunca me engasguei...

Barbosa deu um leve sorriso e disse:

– Bem, tá dado o alerta...

Passados uns dois meses os noticiários locais informaram que quatro marginais entraram num ônibus e anunciaram:

– É um assalto!! Passem tudo!...

Enquanto o chefe da quadrilha rendia o motorista os outros três fizeram a limpa nos passageiros. Porém, antes de deixarem o ônibus o Chefão em voz alta falou aos “assaltados”:

– Atenção pessoal!! Hoje é o dia de meu aniversário. Portanto, todos vocês vão cantar parabéns pra mim, se não...

Mesmo diante da ameaça, ninguém ousou cantar.

O chefe bateu com o cabo do trinta oitão na cadeira do ônibus e gritou:

– E aí, seus bixiguentos, vocês vão ou não cantar?

O silêncio era total, até que uma velhinha começou a cantar:

– Parabéns pra você

Nesta data querida

Muitas felicidades

Muitos anos de vida.

Ao terminar, a velhinha olhou para os outros passageiros, bateu palmas e gritou:

– Viva o ladrão!!!...

Mais uma vez o silêncio se fez presente, quando o “aniversariante” indagou:

– Escuta aqui “vó”, por que você não deu viva pro meu nome?

– Óxente, e eu sei seu nome, meu “fio”!

Dirigindo-se aos comparsas o chefe, ordenou:

– Turma, essa abestada dessa véia é uma arretada. Devolvam os baguio dela, agora!

Bagulhos devolvidos – em meio a total silêncio –, os ladrões se mandaram e o ônibus prosseguiu viajem.

Dias após o assalto, Barbosa soube que Castro estava numa violenta crise depressiva. Preocupado, foi à casa do amigo carioca, e vendo a situação em que se encontrava não hesitou em perguntar:

– Óxente! O que houve com você, macho velho?

E Castro ainda trêmulo, respondeu:

– É... A sua terra mudou muito... Mas tem uma coisa, cantar parabéns pra assaltante, isso aí, eu morro no cacete, mas não faço.

Confuso com a resposta do carioca, Barbosa insistiu:

– Óxente! Parece até que tu tava no assalto do ônibus?!

– E eu não estava também naquele buzão! Os safados levaram até o meu cartão da Previdência Social. Mas... Cantar parabéns!! Aí, já é demais...

Nenhum comentário: