sexta-feira, 15 de julho de 2011

Rota 116 pode estar envolvida em obra de estrada que dá prejuízo milionário ao estado

Segundo relatório do Tribunal de Contas da União, um esquema fraudulento envolvendo uma construtora principal acionista da concessionária Rota-116, pode causar um rombo de mais de R$ 100 milhões aos cofres do governo fluminense.

Auditoria feita pelo Tribunal de Contas da União (TCU) revelou que as obras no Arco Metropolitano, no trecho da BR-493 — entre o entroncamento da BR-040, BR-116 e BR-101 (Porto de Sepetiba) — podem gerar aos cofres públicos do estado prejuízo de R$ 100,8 milhões. Foram encontrados indícios de superfaturamento de 41,3% no valor da areia. E acréscimos de 4.018% na contratação de serviço de geogrelha de poliéster e de 703% na indenização de jazidas. As obras estão orçadas em R$ 965 milhões, mas o estado prevê gastar R$ 1,1 bilhão, segundo a secretaria estadual de Obras. Entre as empresas que participam do trabalho está a Delta Construções — do empresário Fernando Cavendish —, que desde 2007 acumula R$ 1 bilhão em contratos com o governo.

A proximidade entre ele e o governador Sérgio Cabral veio à tona dia 17 do mês passado, com a queda na Bahia do helicóptero que levava amigos e a nora de Cabral de Porto Seguro para o Jacumã Ocean Resort, em Trancoso. O governador e o grupo participariam da festa de aniversário de Cavendish. A Delta é responsável pelo lote 4 do Arco Metropolitano. É nele que o relatório 014.919/210-9 do TCU, na página 21, aponta ter ocorrido o maior acréscimo em serviços de terraplanagem: 87%. O relatório cita ainda, na página 1, que, “em junho de 2010, quando foram realizados os trabalhos de fiscalização, a obra tinha apenas 6,3% dos serviços executados”. O documento do TCU sugere a paralisação na execução da obra, considerando que foram detectados “sobrepreço decorrente de jogo de planilha (esquema para a inclusão de aditivos na obra); sobrepreço decorrente de preços excessivos frente ao mercado; critério de medição inadequado ou incompatível com objeto real pretendido”.

Deputados querem análise criteriosa dos contratos - Os contratos da Delta com o governo vão passar por ‘pente-fino’ da bancada de oposição na Assembleia Legislativa (Alerj). O motivo seria a “falta de transparência” nas licitações relativas à maioria dos acordos que “permitiram reajustes indevidos”, segundo afirma o deputado Marcelo Freixo (PSOL). De acordo com o parlamentar, os aditivos aos contratos seriam “manobra para aumentar o preço”. “O que acontece no Arco Rodoviário é o mesmo que aconteceu nas obras do Pan”, acusa Freixo. As construções para os Jogos Pan-americanos foram orçadas em R$ 400 milhões, mas, no fim das obras, foram gastos R$ 4 bilhões. O deputado estadual Luiz Paulo Corrêa da Rocha (PSDB) quer que todos os contratos — incluindo os que foram fechados com dispensa de licitação em virtude da emergência do serviço — sejam auditados, e que as planilhas de preços adotados sejam minuciosamente comparadas com os valores praticados no mercado.

Estado repassa milhões em investimentos na estrada - A parceria da Construtora Delta com o governo do Estado do Rio vai além das obras do Arco Rodoviário. Desde 2001, a empresa é a principal acionista da Concessionária Rota 116 S/A, empresa que administra a rodovia RJ-116, que liga Itaboraí a Macuco. Mas a concessão da estrada à Delta não impediu que o estado continuasse a executar serviços na pista. Em abril do ano passado, a Secretaria de Obras liberou R$ 22 milhões para investimentos na estrada. Os recursos estão sendo usados na construção do contorno de Nova Friburgo, na criação da terceira pista e em pequena contenção de encosta. Segundo o estado, a execução de obras em áreas concedidas é prevista em contrato, para evitar desequilíbrio financeiro e consequente reajuste do pedágio. A Rota 116 também foi beneficiada com repasse de R$ 8 milhões, nas chuvas de abril e agora pleiteia mais R$ 7,5 milhões em indenizações pelos danos causados à estrada pela catástrofe de janeiro.

A rodovia tem quatro praças de cobrança entre Itaboraí e Macuco: um veículo pequeno paga R$ 3,70. Em 11 anos de concessão, a empresa já arrecadou mais R$ 200 milhões e lucrou perto de R$ 30 milhões. Um novo aumento na tarifa, cujos índices ainda não foram divulgados, está previsto para entrar em vigor a partir de 1º de agosto. Além disso, as obras de reconstrução da ponte no km 102 da RJ-116, levada pelo temporal de janeiro, também estão sendo feitas com recursos do estado.

Contratos sem licitação - Os negócios do empresário Fernando Cavendish com o estado superam R$ 1 bilhão, sendo que 25% teriam sido fechados em contratos sem licitação, conforme levantou o deputado Luiz Paulo Correa da Rocha. Só em 2010, a Delta recebeu R$ 506 milhões. Outra descoberta, feita pelo deputado Marcelo Freixo, mostra que a mesma construtora obteve R$ 100 milhões a mais em contratos assinados entre 2007 e 2010, graças a termos aditivos.

Fonte: Jornal O Dia (repórteres: Christina Nascimento e João Antônio Barros).

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