sábado, 30 de julho de 2011

A Voz do Pastor + Bispo Dom Edney Gouvêa Mattoso

“E viu que tudo era muito bom”

Caros amigos, é no mínimo interessante que nesta conhecida frase do Criador, com a que intitulamos este artigo (cfr. Gn 1, 31), apresente um claro intercâmbio entre beleza e bondade. Mas, podemos ver a bondade nas coisas?

Quando vemos algum objeto sempre captamos dele o estético, sua aparência exterior, suas tonalidades e formas, e nos agrada ver o belo. Por isso que continuamente o expressamos e o queremos próximo nas diversas expressões artísticas. E mais, por detrás da beleza das formas parece que encontramos algo divino, que eleva a alma, que nos faz perceber a presença do sublime em um mundo que, por vezes, parece insistir na fealdade e escuridão.

Não seria, portanto, difícil encontrar também nas expressões artísticas um excelente caminho para a evangelização nos tempos hodiernos. A Igreja desde sempre cultivou o gosto pela arte e, através dela, procurava expressar e ensinar os mistérios que crê e celebra. Porém, muitas vezes, vemos que algumas expressões perdem esta passagem do estético ao seu fundamento de bem e verdade.

O belo nos sensibiliza, nos questiona, tem o poder de abrir nosso coração para o Transcendente, e quando se junta à verdade, ambos se apresentam de modo mais claro e convincente. Assim o dizia o então cardeal Ratzinger falando mais concretamente da arte cristã no seu livro Caminhos para Jesus Cristo: “Admirar os ícones e as obras primas da arte cristã nos conduz em geral a um caminho interior, a um caminho de autossuperação, e nos leva então – nesta purificação da visão que é purificação do coração – à beleza do rosto ou, ao menos, a um reflexo dele, com o qual nos põe em contato com a verdade. Com frequência afirmei minha convicção de que uma verdadeira apologia do cristianismo, a demonstração mais evidente de sua verdade contra tudo o que o nega, a constroem, por um lado, os santos, e por outro, a beleza que a fé gerou. Para que se possa estender a fé hoje é necessário que nos dirijamos, e dirijamos a outros, ao encontro dos santos e ao contado com a beleza”.

É certo que nem sempre o atraente é bom, há o que chamamos de “beleza aparente”, justamente por ocultar a armadilha, como foi o fruto proibido para Eva ou os ídolos para os povos pagãos; porém não por isso o caminho da beleza fica impedido, mas está sempre aberto, por estar intimamente ligado a humanidade, para conduzir às verdades que nos superam. Neste descobrir dos sentidos também podemos iluminar a razão e a vontade, em nosso caminho para Deus.

Dom Edney Gouvêa Mattoso,
Bispo Diocesano de nossa região

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