sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Coluna do Magno

Tem ciência nas superstições e superstições na ciência

A.Magno

Bastou que por acaso eu encontrasse o Biu da Bala (ex-barbeiro, octogenário e quase surdo) e lhe dissesse que vi pelo comércio de Limoeiro-PE uma dezena de ciganas tirando a sorte dos trouxas, para que ele imediatamente, se ajeitasse num banquinho de couro e começasse a contar-me a história abaixo.

– Viiixi Maria, carioca!! Cigana é bicho muito cabuloso!...

Continuou o velho:

– Ói carioca, eu tive um amigo, fazendeiro pras banda de Cumaru que se deu mal com esse babado de tirá sorte com cigana.

Ao ver o velho puxando as calças para cima e acendendo um fedorento cigarro de palha, pensei: “Caramba! Será que o velho vai querer me contar essa história logo agora que eu estou doido para urinar?”

Pois não deu outra... Biu da Bala começou a contar que Severino, o tal fazendeiro amigo dele, certo dia estava em Recife quando foi abordado por ciganas. Mesmo não acreditando “nessas coisas”, Severino resolveu tirar a sorte com a danada da insistente cigana, a qual, depois de alguns minutos de leitura de sua mão, falou:

– É... Infelizmente, só tem “coisa ruim” no seu caminho. Posso dizer?

Severino olhou pra cigana com ar de deboche e falou:

– Óxente, tá esperando o que pra dizer!Diga logo!...

A cigana então pegou a mão de Severino e destrinchou:

– Bem, aqui tá dizendo que a sua mãe vai morrer de câncer dentro de três meses; o seu pai vai morrer de enfarte dentro de seis meses; a sua irmã mais velha vai morrer de desastre de carro no final do ano e você vai morrer depois dela por “causa de uma vaca”.

Severino pagou à cigana, olhou pra ela bem de frente e gesticulou com a mão:

– Tá...! Aqui pra você, sua filha da “p”!!

Doido que o velho concluísse para eu esvaziar a bexiga, o interrompi e perguntei:

– E aí, seu Biu?

E o velho prosseguiu:

– Ah, meu amigo, pois do jeitinho que a peste da cigana leu na mão de Severino, foi morrendo um por um, só restando ele. Aí, Severino apavorado com a seqüência dos acontecimentos, pensou: “Quer saber de uma coisa? A cigana não disse que eu ia morrer por causa de vaca? Pois não vou não... Vou vender a fazenda, comprar um apartamento no centro de São Paulo e passar uns seis meses sem sair de dentro dele. Eu quero ver peste de vaca me matar...”

– E assim fez Severino – disse Biu da Bala.

Como o velho não concluía a história, voltei a futucá-lo:

– E aí, seu Biu?

Seu Biu ajeitou o boné na cabeça e continuou:

– Homi, depois de dois meses, um dia à noite Severino me telefonou, dizendo: “Biu, eu me arrependi muito de ter vendido a fazenda. As mortes que aconteceram em minha família, não passaram de meras coincidências e nada mais. E agora, fico eu aqui que nem um besta trancado dentro de um apartamento no centro de Sampa com medo de morrer por causa de “pô” de vaca. Isso não é ridículo?”

Continuou Biu da Bala:

– Sabe carioca, eu até tive vontade de dizer pra Severino que não se duvida de cigana, mas na hora, resolvi aquietá.

Não suportando mais a pressão na bexiga, pedi ao velho para dar uma paradinha enquanto eu tentaria urinar num “daqueles” banheirinhos de botequim. De volta, pedi que prosseguisse.

Biu da Bala então contou que passados uns 20 dias após o telefonema, Severino aperreado com a vida de prisioneiro que estava levando em São Paulo, arretou-se e foi passear pelo centro da cidade. Quando ele chegou à cima do “viaduto do Chá” ficou olhando pra lá e pra cá, curtindo a paisagem quando inesperadamente surgiu um vendedor de bilhetes de loteria federal atrás dele e gritou: “Olha a vaca!!...” Aí, não deu outra. Com o susto, Severino pinotou viaduto abaixo, morrendo espatifado.

Dei uma olhada para o velho Biu, mas, antes que eu lhe dissesse qualquer coisa ele arrematou:

– Tá vendo, carioca?... Cigana é bicho cabuloso!...

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