sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Um truque trágico - Carol Lilium

A cortina vermelha desceu sobre as gloriosas moradias e em um pequeno passo de mágica as levou consigo. Um truque, um mero truque. Mas, na verdade o que ocorreu a nossa amada cidade não foi um truque que poderia ser desfeito depois. Foi um desastre imenso e com magnitudes que ninguém imaginava.

A nossa pacata rotina, de certa forma, foi rapidamente extinguida e milhares de pessoas amadas se perderam na lama e no que antes era seu reino. Tantas vidas jovens, independente de idade, foram arrancadas de nós em um breve instante. Famílias inteiras deixaram-nos saudade. Não há o que falar sobre esse ocorrido, e se fosse resumi-lo diria: dor.

Não sou muito boa para traduzir em palavras o que ocorreu nesses dias fatídicos e que agora completará um mês. Sempre fui de lidar seriamente com fatos sem passar os sentimentos que guardo para os livros, mas devo dizer ao caro leitor que nesses dias que se seguiram eu não consegui escrever nada, por tamanha dor que senti. E nunca fui disso, sempre delineava as palavras com facilidade no papel, porém quando tudo me ocorreu às palavras me faltaram. Não havia certa forma de traduzir a dor que eu sentia por muitos que haviam deixado nossa humilde cidade, que deixavam suas famílias de forma tão brusca.

Sinceramente, nesta hora não há como manter uma linear seriedade e não se emocionar com cada relato, cada imagem que ficou gravada em nossas mentes. Não há como manter rancor para com outros ou se aproveitar de tal vulnerabilidade. Mas, como nada é perfeito havia pessoas que se aproveitavam da desgraça e dor alheia para crescer de forma horrenda e hedionda. Muitos aproveitavam as casas que foram deixadas por estarem localizadas em áreas de risco para furtar os bens que restaram a estas famílias. Enquanto outros aumentavam os preços dos alimentos para que pudessem manter o estoque e reter os prejuízos. Que ação nojenta é esta se mostra agora que quem fez isso não pode ser um ser humano, e sim um bicho onde a lei é dos mais fortes.

Todavia, havia pessoas tão bondosas que ajudavam aos outros só para vê-los sorrir novamente. Os bombeiros que tanto dedicaram sua vida para retirar os corpos de debaixo dos escombros, os funcionários das Águas de Nova Friburgo que dedicaram seu tempo para restabelecer a água nos bairros, a energisa que tão prontamente se disponibilizou para restabelecer a energia na cidade. Todos de sua maneira distinta foram verdadeiros heróis para com a cidade e seus moradores.

Agora se faz um mês desde que tudo ocorreu, e ainda há as feridas na cidade e um medo ainda avassalador da chuva que cai em alguns momentos. Mas, não devemos desistir nunca! Devemos dar as mãos e olhar as bolas brancas que se erguem no céu levando consigo cada amigo que perdemos guardando lembranças boas de enquanto estes estiveram vivos. Agora eles rezam por nós lá de cima, independente de religião ou crença, eles agora zelam por nós e por quem deixaram aqui.

A noite é sempre mais longa quando vai se haver um dia mais belo. A escuridão é sempre mais densa antes que a luz ilumine nossos rostos. Há de haver esperança para que essa luz continue a nos iluminar e dar forças para o dia de amanhã, para que possamos reerguer novamente a nossa amada Nova Friburgo.

Não vamos esquecer-nos dos dias difíceis que se seguiram, mas vamos tê-lo como uma prova de que somos fortes e podemos nos levantar com a ajuda um dos outros, como uma verdadeira família friburguense e no caso também, bom-jardinense.

A vocês meus amados leitores, meus votos de amor e esperança. Estamos unidos para reerguer nossa amada cidade, seja hoje, amanhã ou depois, estaremos unidos sempre! Esperança, que o dia há de clarescer mais belo para nós e nos fará sorrir como nunca.

“Por mais longa que seja a caminhada, o importante é dar o primeiro passo” Vinicius de Moraes.

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